O líder da RENAMO, Ossufo Momade, em entrevista recente ao jornalista António Tiua, fez duras críticas ao sistema eleitoral e ao comportamento do governo moçambicano nas últimas eleições. Momade expressou preocupação com a repetição anual de estratégias que, segundo ele, visam enganar o povo e perpetuar um sistema político que favorece a manipulação de votos.
Em suas declarações, Momade alertou que desde a implementação das eleições multipartidárias em 1994, o cenário político em Moçambique tem sido marcado por fraudes eleitorais sucessivas. Para o líder da RENAMO, as eleições de 2023 não foram excepção. Ele afirmou que as estratégias criadas pelo governo para garantir a vitória, especialmente nas autarquias, resultaram em mais uma “farsa eleitoral” que prejudica o povo moçambicano.
“Cada ano há uma nova estratégia de como ‘aldrabar’ o povo, de como introduzir votos fraudulentos, de como trapacear os moçambicanos. Este processo de manipulação tem sido uma constante desde 1994”, afirmou. A RENAMO, segundo Momade, continua a resistir, apesar das estratégias governamentais para eliminar a sua presença política, sendo um dos maiores alvos destas manobras.
O presidente da RENAMO reiterou que o partido não reconhece os resultados eleitorais, especialmente devido às irregularidades no processo. “As eleições foram fraudulentas. O que está em causa não é o partido ou a vitória de outros, mas o processo eleitoral em si”, disse, sublinhando que a democracia em Moçambique ainda está longe de ser alcançada, devido à falta de transparência e justiça nas urnas.
Questionado sobre a evolução da sua liderança, Momade não hesitou em reconhecer que a sua posição foi afectada pelas fraudes eleitorais, apesar de, em algumas eleições, o partido ter se mantido como uma forte oposição. O líder explicou que a RENAMO tem sido constantemente desestabilizada pelo uso de práticas fraudulentas, o que dificulta o verdadeiro exercício democrático no país.
Momade também se manifestou sobre as críticas internas dentro da sua própria organização. Ao ser questionado sobre a possibilidade de ser desafiado dentro da RENAMO, respondeu que não se sente ameaçado, e que qualquer decisão em relação à sua liderança será tomada pelos órgãos do partido, e não por grupos fora da estrutura. “O partido tem seus órgãos e, dentro desses, decidimos o nosso futuro. As críticas externas não nos influenciam”, afirmou.
Em resposta à ideia de convocar um congresso extraordinário, Momade confirmou a realização de um Conselho Nacional da RENAMO em Março, onde se discutirá o futuro da organização e as ações que serão tomadas diante do actual contexto político. O líder enfatizou que não se considera um ditador, mas que as decisões devem ser tomadas em conjunto com os membros do partido.
A entrevista expôs as tensões contínuas em torno da política moçambicana e a persistente crise de credibilidade nas eleições do país, um cenário que continua a gerar debates acesos sobre a autenticidade e a transparência do processo eleitoral em Moçambique.