O CONCEITO de família se modifica conforme o tipo de sociedade, o tempo e a sua estrutura social, na medida em que sofre as influências dos acontecimentos sociais, uma vez que os valores morais constantemente sofrem uma transformação variando de acordo com o contexto social e o tempo histórico.
No contexto moçambicano, dado o poder de influência das instituições tradicionais como família, igreja e comunidade, a família ainda é definida como sendo a união de pai, mãe e filhos ligados por sangue, vivendo no mesmo espaço, de forma que o distanciamento prolongado pode constituir uma condição do tipo de vida que se leva, e não um indicador de desestruturação.
Esta definição, embora possa constituir uma crença cultural, ela pode igualmente criar uma limitação face à dinâmica inerente ao processo de constituição de famílias na era contemporânea, onde se admitem comummente monoparentais, reconstituídas, constituídas por indivíduos de mesmo sexo assim como sem filhos. Ao longo do texto exploramos, em síntese, os tipos de família aceites na actualidade.
No contexto da psicologia, família é um grupo de pessoas, vivendo em uma estrutura hierarquizada, que convivem com uma proposta de uma ligação afectiva duradoura, incluindo uma relação de cuidado entre adultos e deles para crianças e idosos que aparecem no contexto. Ou seja, a associação de pessoas que escolhem conviver por razões afectivas e que assumem um compromisso de cuidado mútuo e, se houver, com crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Esta abordagem nos apresenta a família enquanto um órgão que congrega indivíduos que estabelecem uma relação afectiva duradoura, que se associação, possuem determinados papeis a desempenhar para garantir o desenvolvimento da estrutura. Em suma, esta abordagem olha para factores como mesmo espaço, estrutura organizada em hierarquia, interdependência entre os sub-sistemas, o estabelecimento de vínculos afectivos, bem como a distribuição de um conjunto de papéis. Ainda mais, esta abordagem admite um tipo de família mais amplo, que inclui três gerações hierárquicas.
Nesse caso, referimo-nos às famílias extensas, compostas pelo núcleo familiar e pelos agregados que coabitam a mesma unidade doméstica. Todavia, este tipo tende a extinguir, sendo substituído pela família nuclear, especialmente, nas zonas urbanos.
Importa destacar que uma das grandes contribuições da Psicologia em relação à evolução do conceito família e sua estrutura., é que ela admite diferentes classificações, evitando-se recorrer a uma abordagem extremista. Na classificação, além dos tipos acima mencionados, inclui também: família adoptiva, composta por um homem e mulher cujo filho não apresenta laços de consanguinidade; casal, aquela em que o homem e mulher se enlaçam via matrimónio, mas não concebem nem adoptam filhos; famílias monoparentais, representadas simplesmente por pai ou mãe; e casais homo-afectivos (homo-parentais) com ou sem crianças, aquela constituída por indivíduos de mesmo sexo.
A família de três gerações é um tipo de família constituído por membros das três gerações hierárquicas, isto é, aquele que inclui avós, pais e filhos. Nesta, compete aos avós exercer o papel de provedor de sabedoria e experiência, servir de fonte de apoio emocional e de mentor e guia para os netos, bem como assumir a responsabilidade em manter uma conexão saudável entre gerações e serem cuidadores auxiliares; ao pai e a mãe (geração intermediária) compete-lhes exercer o papel de provedores, educadores, oferecer apoio emocional, servir de modelos de comportamento e oferecerem cuidados de saúde; e aos netos e simultaneamente filhos compete-lhes servir de fonte de alegria, estreitar os laços inter-geracionais, adquirir e aprimorar as normas, os valores e princípios vigentes no seio da família e da sociedade, oferecer suporte emocional, garantir a continuidade familiar.
Na actualidade tem sido muto comum o conceito de famílias multi-desafiadas. Esta tipologia inclui famílias reconstituídas e famílias com madrasta ou padrasto. Convêm salientar que as famílias com madrasta ou padrasto, embora a sua existência não seja uma novidade no seio social, a sua aceitação e normalização ainda constitui um grande desafio, sobretudo para os enteados.
Muitas vezes, os padrastos ou as madrastas quando se baseiam em modelos tradicionais de paternidade, sentem-se pressionados a substituir a outra figura paternal. Nesse cenário, o padrasto ou a madrasta “precisa” da legitimação conferida pelos pais para criar seu espaço dentro da família e evitar conflitos de lealdade por parte dos enteados. Assim, embora o papel do padrasto ou da madrasta não seja legalmente definido, as famílias recompostas tendem a construí-lo de modo singular, criando suas próprias normas.
Finalmente, importa reconhecer, geralmente o padrasto ou a madrasta, não tem como intenção imitar um dos parentes biológicos, nem competir com eles pelo afecto das crianças, mas sim construir um lugar específico a partir das inúmeras particularidades existentes em cada família recomposta.
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