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Investigação

Chocante: Crianças africanas filmadas a repetir frases racistas sem saber o significado num esquema lucrativo na China

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https://youtu.be/41sBSAYAR48?si=q0PY7R81puK96tgi

 

Em Fevereiro de 2020, um vídeo chocante surgiu na China. Fora do enquadramento da câmara, alguém dá frases para um grupo de crianças africanas repetirem. O vídeo foi publicado numa conta de redes sociais chinesas chamada Jokes About Black People Club (algo como “Clube de Piadas Sobre Pessoas Negras”). Enquanto algumas pessoas riam do conteúdo, outras ficaram indignadas.

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As palavras que as crianças diziam incluíam “heigwe”, um termo que pode ser traduzido como “monstro negro” ou “diabo negro”. No entanto, na realidade, trata-se de um equivalente chinês da palavra altamente ofensiva N-word, historicamente usada de forma depreciativa contra pessoas negras.

A persistência da investigação

Quando a polémica online se dissipou, o caso não saiu da cabeça da jornalista que conduzia esta investigação. Como pessoa negra vivendo na China na época, ela sentia-se incomodada pelo vídeo. Onde teria sido filmado? Qual o propósito por detrás da sua produção? Quem foi o responsável por reunir um grupo de crianças alegres e inocentes e fazê-las repetir frases tão degradantes?

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Na China, tornou-se comum a venda de vídeos personalizados com mensagens de felicitação. Esses vídeos são frequentemente utilizados em redes sociais e aplicações de mensagens para desejar feliz aniversário, felicitações por casamentos, entre outros eventos. O preço varia entre 10 e 70 dólares americanos.

Por alguma razão peculiar, vídeos envolvendo crianças africanas tornaram-se especialmente populares. Muitos desses vídeos mostram pequenos agrupados em torno de um quadro-negro, gritando mensagens em mandarim. Embora alguns desses conteúdos sejam relativamente inofensivos, outros, como o polémico vídeo da “baixa inteligência”, ultrapassam os limites do aceitável.

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Este vídeo, embora seja o caso mais grave já identificado, é apenas um exemplo dentro de uma indústria lucrativa e crescente.

Rastreando a origem do vídeo

O primeiro desafio foi descobrir onde o vídeo tinha sido filmado. Através da análise detalhada de centenas de vídeos semelhantes, os investigadores conseguiram identificar a localização exata: o vídeo foi gravado no Malawi, mais especificamente numa aldeia chamada Jawa, nos arredores da capital, Lilongwe.

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Com essas informações, o jornalista malawiano Henry Mahango dirigiu-se até à aldeia para aprofundar a investigação. No local, ele encontrou um cidadão chinês envolvido na produção de vídeos com crianças locais. Os habitantes da aldeia chamavam-lhe Susu, e ele pagava às crianças cerca de meio dólar por dia para participarem nos vídeos — mesmo durante os dias em que deveriam estar na escola.

Enquanto Henry conduzia o seu trabalho de campo, a jornalista que liderava a investigação continuava a seguir pistas na internet. Foi assim que foram descobertas duas contas de redes sociais que publicavam regularmente vídeos da mesma aldeia e que apresentavam sempre o mesmo homem.

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Num desses perfis, encontraram uma fotografia de um documento de identificação, revelando o verdadeiro nome do indivíduo: Lu Ke. O apelido “Susu”, que significa “tio” em chinês, era apenas um nome carinhoso que ele usava para interagir com as crianças.

O Homem por detrás da exploração infantil

A grande questão agora era: seria Susu o responsável pela produção do vídeo “baixa inteligência”?

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Para obter mais informações, Henry e a equipa deslocaram-se até outra aldeia, Kamwendo, onde Lu Ke havia passado vários anos a filmar vídeos com crianças locais. Lá, eles procuravam especificamente uma família — a do menino que havia se tornado um dos rostos mais conhecidos dos vídeos de felicitação chineses.

O menino era conhecido nas redes sociais chinesas como Xiao Gula, e o seu carisma e habilidades naturais para a câmara transformaram-no numa verdadeira “estrela” desse mercado. O seu rosto aparecia frequentemente em anúncios promovendo vídeos de bênçãos para clientes chineses.

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Não demorou muito para a equipa encontrar Xiao Gula e a sua mãe. O seu verdadeiro nome é Bright, e na época da entrevista, tinha seis anos.

A mãe de Bright relatou a forma como Lu Ke tratava as crianças. Para a equipa de investigação, isso já não era uma surpresa. Susu via as crianças apenas como ferramentas para alimentar o seu próprio ego e lucrar. Explorava a sua condição de pobreza para criar conteúdos que seriam consumidos por um público distante, para quem aquelas imagens se tornavam um mero entretenimento exótico.

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A equipa já tinha descoberto muito sobre a forma como Susu operava. Mas ainda restava a grande questão: ele era o autor do vídeo racista?

A armadilha para conseguir uma confissão

Para obter uma resposta definitiva, um jornalista chinês chamado Paul foi recrutado. Disfarçado de empresário interessado em contratar vídeos personalizados, ele marcou um encontro com Susu e utilizou uma câmara escondida para registar a conversa.

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Durante o encontro, Paul conseguiu fazer com que Susu falasse sobre o negócio e as suas práticas. Em outra reunião, mostrou-lhe o vídeo da “baixa inteligência” e perguntou directamente:

Foste tu quem fez este vídeo?

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No início, Susu negou imediatamente. No entanto, a sua reacção seguinte denunciou-se:

“Ah… Eu vi o meu amigo filmar isso e depois fui embora”, disse ele, deixando escapar uma confissão indirecta.

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Ele percebeu o erro e tentou corrigir-se:

“Sugiro que elimines esse vídeo. Não deves mantê-lo no telemóvel”.

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O nervosismo de Susu era evidente. Ele sabia que aquele conteúdo era altamente problemático.

Enquanto isso, em outra frente da investigação, Henry conseguiu localizar algumas das crianças que haviam participado do vídeo da “baixa inteligência”. Sentaram-se com um pai e uma avó para lhes explicar o significado das palavras racistas que os seus filhos haviam sido forçados a repetir. Nenhum deles sabia exactamente o que os meninos estavam a dizer nos vídeos, pois não falavam mandarim.

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Ao ouvirem a tradução, a indignação e a tristeza foram inevitáveis.

Confrontando o explorador

Chegara o momento de confrontar Susu directamente.

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Ao ser abordado pela equipa de investigação, ele tentou justificar-se:

“Eu estou aqui para promover a cultura chinesa, a música e a dança.”

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Quando questionado sobre as acusações de maus-tratos às crianças, ele negou firmemente:

“Isso é um mal-entendido. Nunca bati nelas.”

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A equipa pressionou mais:

“Foste tu quem fez as crianças dizerem ‘sou um monstro negro’?”

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“Não, isso não fui eu.”

Sabendo que não conseguiria mais informações, a equipa encerrou a conversa.

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O Fim da Investigação, mas Não do Problema

A investigação havia desmascarado um esquema de exploração infantil e interrompido as operações de um homem. No entanto, a indústria de vídeos racistas e degradantes continua a crescer, e crianças como Bright continuam a ser exploradas diariamente para entreter um público distante e indiferente ao impacto real daquilo que consome.

 

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14 de jun. de 2022 #africa #china #bbcnewsbrasil

Em fevereiro de 2020, um vídeo chocante começou a circular nas redes sociais chinesas. Um grupo de crianças africanas era instruído, por uma voz fora da câmera, a cantar frases em chinês. As crianças repetem as palavras com sorrisos e entusiasmo – mas não entendem que o que estão sendo dizendo é “sou um monstro negro e meu QI é baixo”. O clipe provocou indignação na China e além das fronteiras do país. Mas algumas perguntas nunca foram respondidas: por que isso foi gravado? Onde foi gravado? Afinal, quem fez isso? Os repórteres Runako Celina e Henry Mhango, do BBC Africa Eye, foram atrás das respostas. Durante a investigação, descobriram uma indústria de produção de vídeos que explora crianças vulneráveis em todo o continente africano.

FONTE: BBC NEWS

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