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Conflitos de terra em Nkobe: Cidadã trancada pelos vizinhos paga Dois Mil meticais por mês para sair da residência

Edicao de Maio de

Edicao de Maio de

Um caso insólito de barbas longas e sucede às vistas das estruturas administrativas do bairro Nkobe, quarteirão 15, onde uma cidadã está a ser vítima dos vizinhos e chefe de quarteirão que não a permite circular pela zona nem mesmo que saia de casa para buscar sustento.

Olívia Ernesto chamou a Reportagem do Jornal Visão e da Visão Novo Moçambique TV, na manhã de quinta-feira (29 de Abril de 2021), para denunciar o comportamento desumano com que é tratada pelos vizinhos e chefe do quarteirão no bairro Nkobe.

Segundo contou a Olívia, o problema que hoje denuncia a imprensa dura mais de 6 anos e que já mereceu intervenção dos fiscais do posto Administrativo da Machava mas que nem água vai nem água vem.

A disputa de um espaço para ela e seu marido passarem ou seja saírem da sua residência à rua, tem barbas longas. Olívia Ernesto diz se vítima de um golpe do espaço que a mesma usava como via de acesso para entrada à sua residência, cujo problema envolve até as estruturas daquele bairro. Olívia vê-se em cárcere privado na sua própria residência, isto porque a vedação dos quintais da vizinhança deixa Olívia sem nenhuma saída.

A Entrevista conduzida pelo Jornal Visão, trás os contornos do insólito do quarteirão quinze do bairro Nkobe no Posto Administrativo da Machava-Sede.

Ele perguntou …“quantos fiscais você trouxe aqui do círculo da Machava, o que eles fizeram? – eles não podem resolver nada aqui, eu é que mando neste Quarteirão 15, porque sou da FRELIMO”…

 

Olívia o que esta acontecer exatamente no seu espaço?

É isso que vocês estão a ver por aqui, fecharam a minha entrada, esta é a minha entrada, estou aqui há oito anos, sou a primeira pessoa a viver aqui neste bairro, chegou esse mano e começou a viver, de repente dois por três, por onde eu passava fecharam, quando eu construi a minha casa os carros passavam por aqui eu passava daqui de repente dizem que não posso mais passar daqui porque essa parte não é minha é dele, e que eu tenho que chamar a pessoa que me atribuiu este espaço e mesma pessoa que atribuiu a ele, mas a pessoa perdeu a vida é o “Antoninho” que era Secretário do Bairro e eu não tenho como ressuscitar essa pessoa. Mas este e que é o meu espaço e que tinham deixado três metros como minha entrada, quando vou ao chefe do quarteirão ele diz que já não tem como me dar entrada, mesmo que vá a esquadra, ou qualquer sítio onde quer que vá não vai conseguir resolver porque ele é da Frelimo. Ele diz que tenho que ajoelhar para ele e o pedir desculpas para me dar entrada ou ficar a espera dos documentos que já estão na Vereação da Matola. Já estou aqui há oito anos, o que devo fazer agora?

Deu me naquele buraco de espinhosos para eu poder passar, falou com essa vizinha e que tenho que pagar dois mil meticais, mas também não sei se devo alugar essa entrada, mas essa senhora saiu juntamente com meu marido foram ter com o chefe do quarteirão ontem e hoje às 6 horas para ter a solução dos problemas e ele não deu nenhuma solução, então a vizinha perguntou ao chefe do quarteirão, até quando essas pessoas terão de passar da minha casa? O Chefe do quarteirão não teve resposta.

A pessoa que fechou a sua entrada o que alega, porque fechou a entrada exactamente?

Fechou essa entrada porque daqui, entrava o meu cunhado com carro, deixava o carro aqui e tocava música, nos princípios ele perguntava o seguinte: porque metes carros da sua família aqui, passam da minha casa a provocarem barrulho, eu respondi o seguinte, mano! Aqui não é a sua casa, aqui é entrada da minha casa, o barrulho que está a se fazer, está a fazer na minha casa, e ele disse que nós não conseguimos dormir porque o seu cunhado toca música, eu disse, o que você acha, que pode fazer, então faça, mas a verdade é uma, eu quero entrada, tudo isso foi dizer ao chefe do quarteirão depois abriram um metro, estás a ver o que é um metro, plantaram espinhosos dos dois lados, um dia desses eu a passar com dois plásticos e uma pasta a voltar do trabalho, os plásticos que eu trazia as vezes puxavam espinhosos, disseram que eu tirei espinhosos por isso vamos fechar… por isso fecharam mesmo, esses espinhosos ele é que plantou mas já não consegue cortar.

Tendo ido as estruturas do bairro, ele é chefe do quarteirão já chegaram na senhora para te dizerem o que está acontecer?

O chefe do quarteirão não conseguiu dizer nada, disse que se fechou a ali por minha causa, e eu perguntei, o que fiz? Se é que fiz mal, agora estou aqui em casa do chefe do quarteirão, você que é o nosso pai, peço desculpas que abram a minha entrada, ele disse não, – não vou conseguir, porque eu já levei o problema para o círculo e do círculo, já não sou eu. Eu perguntei, nesse tempo eu a passar de onde, enquanto espero? Estou cansada de usar entrada e ser picada com espinhosos, na minha coluna tenho marcas de espinhosos, já há um mês que passo por esses espinhosos, por isso que acabei vos chamando para me ajudarem, por que estou há anos com esse problema.

Depois de terem bloqueado a entrada, o que a senhora fez de imediato?

Fui imediatamente ter com o chefe do quarteirão, ele disse, está bem, vamos tratar disso.

Onde é que a senhora passou a usar como entrada?

Pedi a vizinha de trás da minha casa, a senhora disse, está bem, enquanto tratas do seu assunto vai usando, assim sendo fui usando o quintal dela durante quatro anos, este ano ela veio dizer-me que, mãe já usou o meu quintal, mas já preciso fechar e fechou agora fiquei sem saída.

Depois de a vizinha de trás fechar o quintal, qual foi o passo seguinte?

Novamente, procurei o chefe do quarteirão. Ele não me disse nada, um dia a voltar do serviço às 20 horas, passei daqui, na minha antiga entrada e o dono bloqueio-me e disse você não pode passar daqui, volta. Então eu disse, não volto, faça o que achar de mim, ele continuou a dizer, senhora, volta… eu disse não volto, vendo daqui a minha casa, não vou dormir no na rua, enquanto estou a ver a minha casa, isso não.

Então ele chamou o chefe do quarteirão à noite. O chefe do quarteirão ao chegar me disse: senhora quando uma pessoa te manda voltar de casa dela tens de voltar, ele disse, o seu caso estamos a resolver, vamos voltar e entrar do outro lado e entramos da casa da vizinha atrás e ela não estava em casa, quando ela voltou veio na minha casa e disse, mamã, eu te disse que queria fechar o meu espaço, eu deixei-te passar da minha casa durante anos, quem manda na minha casa sou eu e não o chefe do quarteirão, eu disse está bem.

Quando amanheceu passei da minha antiga entrada e eles ainda estavam a dormir, quando voltei fomos ter com chefe do quarteirão e o mesmo falou com essa senhora da frente para usar esse buraco… por isso que chamei-vos para me ajudarem pois eu já estou cansada, por favor ajudem-me.

O chefe do quarteirão diz que está a tratar esse assunto com o seu marido, o que o seu marido diz?

O meu marido está cansado porque ele também lhe faz andar de um lado para outro, aqui já vieram fiscais, chefes de serviços do círculo do bairro, ele perguntou “quantos fiscais você trouxe aqui, do círculo da Machava, o que eles fizeram, eles não podem resolver nada, aqui neste quarteirão 15 eu é que mando porque sou da FRELIMO”, isso é o que ele me disse.

Os fiscais tendo chegado aqui o que fizeram?

Eles viram a situação, e disseram que só podem fazer algo na presença do chefe do quarteirão.

Quando estiveram cá, o chefe do quarteirão não estava, é isso que está a dizer?

Sim, ele sabe o que fez, talvez ele vendeu este espaço, já viram uma casa sem entrada?

Este buraco é o mesmo que as crianças e o marido usam?

É o mesmo sim, eu posso querer comprar arroz, gás e outras coisas grandes, fica difícil, tenho que me desenrascar entrando dali dos espinhosos,

Os dois mil meticais que paga, quem determinou?

Não sei. Também não sei se eu dar os dois mil meticais a entrada será minha para sempre ou serve para quanto tempo.

Durante a conversa com a vítima, nossa equipa de reportagem constatou que a pessoa que disponibilizou aquele espaço para Olívia terá perdido vida um pouco antes do conflito iniciar.

Tentamos entrar com o chefe do quarteirão, mas foi sem sucesso.

Esta zona quando foi parcelada pelos responsáveis do bairro, todas as casas estavam devidamente organizadas com as respectivas vias de acesso para todos, o que acontece é que, para os terrenos que os donos ainda não ocuparam, quando alguém mostra interesse pelo mesmo, os responsáveis do bairro cortam e vendem à revelia do proprietário, o que acontece com a nossa entrevistada. Ela adquiriu seu espaço e que estava tudo bem, até que apareceu aquele senhor que juntamente com o chefe do quarteirão deram golpe a Olívia, no que está resultar nesse conflito

Esta área pertencia o mesmo bairro, tendo-se reorganizado, acabando por ser repartido em três, Nkobe, 1º Maio e Muhalaze. Assim sendo, “alguns chefes responsáveis pelo parcelamento do bairro, passaram a pertencer aos outros bairros, portanto, no surgimento desses conflitos, estes recusam a resolver os problemas do antigo bairro alegando não pertencer àquela circunscrição”. Sem gravar a entrevista, relatou Carlos Cossa, residente e um dos participantes no parcelamento deste bairro.

Ainda no terreno aproximamos ao Horácio José, chefe das dez casas daquele quarteirão, longe dos microfones e gravadores, este, garantiu que a vítima tinha o espaço organizado tal como os outros residentes daquele bairro e que “realmente a Olívia está a ser injustiçada”.

Rosa Carlos, mais uma das nossas entrevistadas, por sinal vizinha de Olívia, diz não ter-se instalado há muito tempo naquele bairro mas alguma coisa sabe e conta.

“Desde muito tempo aquele local foi rua por onde ela passava para entrar na sua casa, o que não sabemos é o porquê agora não pode mais usar para tal. Eu aconselho que os chefes de quarteirão aproximem-se àquela vizinha, pois sem eles como chefes nada pode ser resolvido”, relata Rosa.

Já o suposto protagonista do problema, sem gravar a entrevista, diz não entender a inquietação da senhora, até porque, a via que a senhora usava, pertence a ele e que a senhora só usava porque ele cedeu e que agora decidiu vedar o seu espaço, deixando a senhora sem saída.

Nesta situação, esta, viu se obrigada a recorrer a outras vias, como atravessar os quintais alheios, estes que por sua vez, depois de algum tempo foram vedados com um muro de blocos e cimento e que neste preciso momento restou-a outro meio muito arriscado, passar das plantas com picos usadas para vedação nos quintais duma outra casa que mesmo assim terá de pagar dois mil meticais, restando lhe dúvidas se o valor será diário, mensal ou definitivo.

Author: Luís Tomo

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