Primeiro de abril é conhecido como o Dia da Mentira. Por que não esse e não outro dia do calendário para se fazer tal comemoração?
A explicação mais consensual remete à França do Século XVI. Em 1563, o rei Carlos IX, adotando o calendário gregoriano em seu país, determinou que o ano novo passaria a ser celebrado em 1.º de janeiro, não no período de 25 de março a 1.º de abril, como tradicionalmente se fazia no país europeu (o advento da Primavera; isto é, estação do reflorescimento, celebração do ano em nascimento).
A instauração da data gerou o repúdio de muitos franceses, que, descontentes com a mudança, ignoraram a determinação real, mantendo os festejos no período entre o final de março e o início de abril. Alguns de seus compatriotas, de modo muito sarcástico, aproveitaram essa contenda – entre datas oficiais e tradições culturais – e resolveram extrapolar, enviando presentes estranhos e convites para festas que não existiam. Tais “brincadeiras” deram origem ao Dia do Bobo, que no mundo, gradualmente, passou a ser conhecido como Dia da Mentira.
No Brasil, a introdução da data dedicada a tais brincadeiras se dá por meio do periódico Mentira. Em 1.º de abril de 1828, o jornal veiculou a falsa notícia sobre a morte de Dom Pedro; o fato desmentido no dia seguinte.
Em nosso país, todavia, um episódio histórico acentua as questões relacionadas ao tal dia dedicado à inverdade. Entre a noite de 31 de março e a madrugada de 1.º de abril, o exército depôs o presidente João Goulart, tomou o poder e declarou ter realizado uma “Revolução”. Em contrapartida, os historiadores explicam se tratar de uma “mentira”; o que de fato houve, segundo os estudiosos, foi um “Golpe Militar” de extensa duração: 21 anos – 1964-1985.
Entre episódios de sarcasmo, na França de séculos atrás, e de ditadura, no Brasil, há algumas décadas, o 1.º de abril pode – e deve – ser rememorado. Que as brincadeiras que não matem nem desrespeitem os humanos sejam feitas por quem quiser aproveitar a ocasião, de forma divertida e cuidadosa. Também, que as reflexões sérias e produtivas sobre a nocividade do regime militar ao país, de maneira científica, aconteçam.
A data, contudo, oportuniza outras discussões no Brasil. Enseja o Dia da Mentira, paradoxalmente, o combate às “Fake News”. Em um país, fundado a partir de uma historieta mal contada e pródigo versões contestáveis de fatos históricos, as mentiras ganharam mais velocidade de propagação. Presente no cotidiano nacional, sobretudo em redes sociais, as “Fake News” elevam boatos a fatos incontestes e forjam narrativas oficiais, ludibriando as massas para promover alguns grupos cujos objetivos em nada se aproximam com do bem comum.
É preciso educar toda a sociedade para evitar as “Fake News”. Faz-se urgente, também, imputar penas mais duras para quem publica notícias falsas, bem como promover boicote a empresas que patrocinam as “Fake”. A busca pela verdade, de maneiras múltiplas, é a maior contribuição que se pode tirar desse Dia da Mentira!
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