Apreensão de 111 Contentores de Madeira no Porto da Beira Expôs Fragilidades, mas Acelerou Modernização e Aposta na Economia Verde
A interceptação de 111 contentores de madeira no Porto da Beira, capital provincial de Sofala, pertencentes à empresa SAFI Timber e com destino à China, marcou um ponto de viragem no sector agroflorestal moçambicano.
A operação, conduzida pela Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia (DNFFB), evitou que o Estado perdesse cerca de 15 milhões de meticais, valor correspondente a licenciamento, taxas de exportação, operações logísticas e fiscais.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Visão Moçambique, o director nacional de Florestas e Fauna Bravia, Imede Falume, explicou que a apreensão, além de travar perdas imediatas, expôs riscos de contrabando e irregularidades documentais, incluindo a presença da espécie Nkula, listada na Convenção CITES e cuja exploração não é permitida.
“O impacto vai além da perda imediata. Está em causa a imagem internacional do país e a sustentabilidade das nossas florestas”, destacou.
As investigações em curso podem resultar em multas significativas para a empresa envolvida, além da recuperação de receitas fiscais não declaradas. Mas mais do que um episódio isolado, o caso expôs fragilidades históricas no controlo do sector e acelerou reformas que já estavam em curso.
O Governo prepara o Programa de Economia Florestal, alinhado à Estratégia Nacional de Financiamento 2025–2035, que pretende transformar a exploração de madeira num motor da economia verde. Entre os objectivos estão a revisão da legislação, o reforço da fiscalização e a melhoria dos planos de maneio, seguidos da redução gradual da exportação de madeira serrada e da consolidação de indústrias locais capazes de transformar o recurso em móveis e derivados.
A meta, segundo o Executivo, é deixar de ser mero exportador de troncos para passar a colocar no mercado internacional produtos com valor agregado, apoiados por um investimento estimado em cinco mil milhões de dólares, destinados a parques industriais e cadeias de valor sustentáveis.
Apesar das perspectivas, o sector continua a enfrentar números preocupantes. A contribuição para o PIB é inferior a 4%, os empregos directos não ultrapassam 22 mil e a quota de exploração fixada para 2025 é de 485.936 metros cúbicos.
O número de operadores formais tem vindo a cair, passando de 621 em 2021 para 406 em 2024, enquanto o desmatamento atinge 267 mil hectares por ano. Estes indicadores revelam a urgência de uma governança eficaz e de um combate firme à corrupção, sob pena de Moçambique enfrentar sanções internacionais e perda de credibilidade.
Para Imede Falume, um dos sinais mais encorajadores é a viragem digital proporcionada pelo Sistema de Informação Florestal (SIF), ferramenta que já está a mudar o controlo da exploração de madeira.
O SIF permite licenciamento e quotas em tempo real, fiscalização digital com georreferenciamento e transparência no registo de operadores, reduzindo significativamente o espaço para práticas corruptas.
Integrado à nova Lei Florestal, aprovada em 2023, o sistema começa a gerar impacto visível, com aumento das receitas fiscais e maior confiança nos processos de monitoria.
A apreensão dos 111 contentores não foi apenas um alerta sobre os riscos do contrabando, mas um catalisador de mudanças estruturais no sector agroflorestal.
Entre a fiscalização reforçada, a digitalização dos sistemas e a industrialização da madeira, o país procura transformar os seus vastos recursos em riqueza sustentável.
“Este sector tem potencial para gerar milhares de empregos e tornar-se pilar da economia verde, desde que haja governança eficaz e combate firme à corrupção”, concluiu Falume.
Com reformas em marcha e a digitalização a servir de motor, Moçambique inicia uma nova fase em que a exploração florestal deixa de ser sinónimo de contrabando e perda de receitas para se afirmar como alavanca estratégica do desenvolvimento nacional.



