CAPA
Edição n.º 222 do Jornal Visão Moçambique: Três Temas Centrais em Destaque

A edição n.º 222 do Jornal Visão Moçambique, datada de 11 de Abril de 2025, aborda uma série de questões cruciais para o panorama nacional. Entre os diversos artigos e análises, três temas principais emergem com particular relevância: o cepticismo em torno da “Chama da Unidade Nacional” lançada pelo Presidente Chapo, a persistente instabilidade no centro do país ligada a ex-guerrilheiros da RENAMO, e as sérias preocupações com a situação económica, exacerbadas pelo caos pós-eleitoral.
1. A Controvertida “Chama da Unidade Nacional”: Uma Iniciativa Sob Forte Escrutínio
Um dos temas mais proeminentes desta edição é a intensa crítica que a agenda da “Marcha da Chama da Unidade Nacional”, idealizada pelo Presidente da República, Daniel Chapo, tem suscitado na sociedade civil. Vários analistas e figuras da sociedade moçambicana expressam profunda desconfiança quanto às reais motivações desta iniciativa, sugerindo que se trata de uma estratégia “cosmética” do partido Frelimo para consolidar poder e atrair investimento estrangeiro após as contestadas eleições de 2024.
Zito Ossumane questiona a efectividade de construir unidade num contexto de pobreza e exclusão, onde muitos não têm sequer o básico para sobreviver. Albino Manguene argumenta que a unidade nacional será sempre uma “miragem” enquanto houver segmentos da sociedade excluídos do acesso a oportunidades e cargos de liderança. Roberto Tibana classifica a agenda da unidade como “cosmética partidária” nascida da “fraude eleitoral”. Adriano Nuvunga ironiza a iniciativa, associando a “chama da unidade” às estradas degradadas do país.
Alegadamente, esta não é a primeira vez que uma iniciativa similar é lançada, sem que tenha resultado numa maior coesão nacional. As críticas convergem para a ideia de que a unidade genuína requer ações concretas para combater a exclusão social e económica, em vez de meros símbolos.
2. Fragilidade da Paz e Descontentamento de Ex-Guerrilheiros da RENAMO: O Caso de Sofala
Outro tema central na edição é a recente onda de violência armada na província de Sofala, reacendendo temores sobre a sustentabilidade do processo de pacificação em Moçambique. O ataque a viaturas civis na Estrada Nacional Número Um (EN1), na zona de Nhamapadza, levanta sérias preocupações, especialmente num contexto de crescente descontentamento entre os antigos guerrilheiros da RENAMO.
Fontes locais sugerem o possível envolvimento do general reformado Timosse Maquinze, figura de prestígio entre os ex-combatentes, como mentor dos ataques. Este cenário ganha força devido à alegada marginalização e esquecimento dos ex-guerrilheiros pelo poder instituído, apesar das promessas de regularização de pensões e subsídios de reintegração. O próprio general Maquinze relata as condições de extrema precariedade em que muitos ex-combatentes vivem.
Analistas políticos entrevistados pelo jornal Visão Moçambique ponderam que estas ações armadas podem ser uma tentativa de sabotar o governo actual ou de pressionar a liderança da RENAMO. Para muitos desmobilizados, o Acordo de Paz e Reconciliação Nacional de 2019 não trouxe resultados palpáveis. A crise social e económica entre os ex-combatentes agrava-se com o lento ritmo de implementação das promessas de reinserção. Especialistas defendem uma reavaliação do modelo de reintegração para evitar o desmoronamento dos ganhos de paz.
3. Crise Económica e o Impacto das Manifestações Pós-Eleitorais: Patrões à Beira do Colapso
A edição nº 222 também dedica atenção significativa à deterioração da situação económica em Moçambique, particularmente no rescaldo das manifestações pós-eleitorais de 2024. A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) manifesta profunda preocupação com a saúde financeira das empresas, com cerca de 60% das afectadas pelas manifestações sem previsão de retomar as suas actividades.
O Presidente da CTA, Agostinho Vuma, propôs o adiamento das negociações para a fixação do salário mínimo, alertando para o impacto negativo de um reajuste salarial actualmente, que poderia levar a demissões e aumento da informalidade. Vuma também solicitou medidas de apoio ao sector privado e a revisão do mecanismo de negociação dos salários mínimos.
Dados da CTA revelam que 955 empresas foram directamente afectadas pelas manifestações, com prejuízos estimados em 32,2 mil milhões de meticais. Paralelamente, o país enfrenta uma acentuada desaceleração da actividade económica. Uma investigadora do Centro de Integridade Pública (CIP), Teresa Boene, alerta para o risco de a dívida pública atingir níveis insustentáveis caso o governo não contenha gastos desnecessários, o que poderá comprometer a prestação de serviços sociais básicos. O estudo do CIP indica que a dívida pública moçambicana atingiu 1 trilhão de meticais em 2024.
Em suma, a edição n.º 222 do Jornal Visão Moçambique apresenta um panorama complexo, marcado por cepticismo político, fragilidade da paz e graves desafios económicos, oferecendo uma análise crítica e multifacetada da actual conjuntura nacional.