ELEIÇÕES
Entrevista exclusiva com Gilmário Vemba: “A luta em Moçambique não foi em vão”

O artista angolano Gilmário Vemba conversou com a Deutsche Welle sobre a situação política em Moçambique, reflectindo sobre a luta pela democracia e o impacto das recentes movimentações sociais e políticas no país. Durante a entrevista, Vemba compartilhou as suas percepções sobre os desafios enfrentados e a importância de manter a luta pela transparência e mudanças políticas.
DW: A revolução em Moçambique foi adiada? Foi tudo em vão, ou podemos dizer que os sacrifícios valeram a pena?
Gilmário Vemba:
Acredito que todos os movimentos em direcção às melhorias que almejamos nos níveis de democracia nunca são em vão. A revolução que aconteceu em Moçambique – e que continua a acontecer – é parte de um processo. Mudanças em realidades complexas não acontecem de um dia para o outro. Quando olhamos para a independência dos países africanos, como Angola, vemos que as lutas começaram em 1961 e só terminaram em 1975. Mesmo depois da independência, tivemos 30 anos de guerra, mas cada passo foi válido.
Em Moçambique, estamos num processo em que é essencial alcançar o próximo nível de democracia: eleições justas e transparentes, onde a vontade do povo seja respeitada. A luta moçambicana já trouxe resultados visíveis. A máquina dos que estão no poder é forte, mas a cada dia ela perde força porque mais pessoas questionam, debatem e exigem responsabilidade.
DW: Na sua opinião, a luta em Moçambique teve impacto além das fronteiras?
Gilmário Vemba:
Sem dúvida. O que acontece em Moçambique reflecte-se em toda a África de língua portuguesa. Somos uma comunidade, como irmãos, e lutar por melhorias em Moçambique é lutar por melhorias em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Não podemos ser unidos apenas em momentos de desastres naturais; também precisamos ser solidários ao exigir transparência e responsabilidade dos nossos líderes.
DW: Acha que houve erros estratégicos por parte dos líderes da oposição?
Gilmário Vemba:
Não vejo erros estratégicos significativos. A oposição usou toda a sua capacidade intelectual, física e emocional. No entanto, enfrentam desafios enormes, como a resposta bélica e o jogo económico de bastidores, que são muito fortes. Além disso, há interesses políticos internacionais que influenciam a situação em Moçambique.
DW: Qual é o papel dos jovens neste cenário político?
Gilmário Vemba:
Os jovens têm um papel crucial. Mas é importante que eles não sejam apenas partidários. Quando os jovens se limitam a defender as ideias de um partido, deixam de pensar no melhor para o povo. Devemos incentivar os jovens a participarem do debate político como cidadãos, com liberdade para criticar e propor soluções que beneficiem todos.
Como artista e cidadão, sempre reforço a ideia de que todos devem falar sobre política. A noção de que “jovem não fala de política” é um resquício do colonialismo e do regime de partido único. Todos temos a obrigação de contribuir para a democracia com nossas opiniões e ideias.
DW: Como vê o futuro da democracia em Moçambique?
Gilmário Vemba:
A luta deve continuar. Mesmo em países com democracias mais desenvolvidas, as pessoas continuam lutando por ajustes e melhorias. Em Moçambique, precisamos garantir que o jogo político não seja dominado por um único grupo. O país tem mais de 30 milhões de habitantes, e as melhores ideias não vêm de uma única parte. Acredito que a mudança virá, e cada dia de luta é válido para isso.
A conversa com Gilmário Vemba destacou a importância da persistência na luta por justiça e democracia em Moçambique. Para o artista, as conquistas já alcançadas mostram a força do povo e reforçam a necessidade de continuar pressionando por um futuro mais justo e transparente.
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