O brutal assassinato de dois agentes das Forças de Defesa e Segurança — um do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) e outro Inspector Principal da Polícia de Protecção — ocorrido recentemente na cidade da Matola, suscitou uma análise profunda no programa Noite Informativa, transmitido pela STV Notícias.
Os convidados Mukhtar Abdul Carimo, Anísio Buanaissa e o criminalista Paulo Sousa traçaram um panorama alarmante da crescente sofisticação do crime organizado em Moçambique, apontando para um cenário que se aproxima do conceito de Estado capturado por redes ilícitas com elevado poder de penetração nas instituições.
Mukhtar Abdul Carimo: A Radiografia de um Estado Capturado e das Fragilidades Estruturais
O comentador e analista político Mukhtar Abdul Carimo abriu o debate com uma afirmação contundente:
“Moçambique caminha para se tornar um Estado capturado pelo crime organizado.”
Segundo Carimo, os assassinatos recentes revelam um padrão sofisticado de actuação criminosa, que inclui conhecimento prévio sobre as rotinas das vítimas e estratégias de neutralização que desafiam frontalmente a autoridade do Estado.
Durante a sua intervenção no Noite Informativa, Carimo lamentou o nível de impreparação das autoridades, relatando que no local do crime a polícia não dispunha sequer de fita de isolamento, recorrendo a folhas de árvores para tentar preservar a cena — o que, segundo ele, contaminou provas e ilustra a precariedade institucional.
“Estamos todos intranquilos. Este episódio mostra não apenas a ousadia dos criminosos, mas também a fragilidade do Estado na sua função essencial: garantir ordem e segurança pública.”
Para Carimo, a eliminação de agentes das forças de segurança em serviço ou fora dele deve ser lida como um sinal de tentativa de deslegitimação da autoridade estatal, num momento em que o país busca reformar o sector da justiça e da segurança, nomeadamente através da integração entre o SERNIC e a Procuradoria-Geral da República (PGR).
Ele destacou ainda a expansão do crime organizado e o tráfico de influência, com ramificações que tocam o narcotráfico e o contrabando, além de levantar uma hipótese inquietante:
“Há possibilidade de que se trate também de ajustes de contas internos, de rivalidades entre corporações, ou da actuação de agentes envolvidos em redes ilícitas. A própria PGR já reconheceu a vulnerabilidade das forças à corrupção.”
Anísio Buanaissa: A Proliferação de Armas e a Urgência da Resposta Estatal

Embora suas declarações não constem integralmente do excerto transcrito, o analista Anísio Buanaissa contribuiu para a análise no Noite Informativa, sublinhando que a situação actual não pode ser dissociada de uma crescente circulação de armamento em mãos erradas.
Buanaissa relaciona este fenómeno com diversos factores, incluindo:
- O impacto regional da criminalidade vinda da África do Sul;
- A instabilidade em Cabo Delgado, que facilitou o desvio de armamento;
- As manifestações violentas ocorridas nos últimos anos.
“Estamos perante um contexto onde há armamento em demasia, fora do controlo do Estado, que caiu nas mãos de grupos com objectivos claros. Isso explica a audácia dos ataques, muitas vezes cometidos em plena luz do dia, sem temor de retaliação.”
Para o analista, a resposta do Estado deve conjugar inteligência e força, com capacidade de actuação estratégica e previsível. A eliminação de agentes do Estado em função ou relacionados com investigações sensíveis não pode ser vista como actos isolados, mas sim como sintomas de uma fragilidade institucional que requer resposta imediata e resiliente.
Paulo Sousa: A Técnica Criminalista e o Modus Operandi das Execuções

O criminalista Paulo Sousa, também presente no painel da STV, trouxe uma leitura técnica dos crimes, centrando-se no perfil das vítimas e no modus operandi dos assassinos, que descreveu como “altamente profissional”.
Sousa destacou que tanto os agentes da PRM quanto os do SERNIC visados não se encontravam uniformizados no momento dos assassinatos, o que indica vigilância e premeditação. Ele acrescenta que essas vítimas:
“Estão frequentemente ligadas a áreas sensíveis e apresentam, por vezes, uma condição financeira que excede aquilo que conhecemos como remuneração habitual nas fileiras.”
A forma como os crimes são executados revela grande sofisticação:
- Acontecem em via pública, durante o expediente;
- São utilizados veículos para bloqueio e aproximação;
- Os disparos são efectuados por múltiplos atiradores com armas automáticas, como AK-47;
- Os tiros visam regiões vitais (da cintura para cima), o que evidencia uma intenção clara de eliminação física.
“Estes ataques ocorrem à hora nobre, com recursos a armamento exclusivo das forças de segurança, o que levanta suspeitas de que há promiscuidade interna. É difícil ignorar que alguém com acesso institucional está a municiar e facilitar estas ações.”
Sousa comparou a situação moçambicana com cenários observados em países como Brasil, África do Sul e Estados Unidos, citando o Índice Global da Paz 2024:
“A sofisticação dos crimes demonstra que há um esforço real de captura do Estado por redes criminosas ligadas ao tráfico de drogas, contrabando e lavagem de dinheiro. Não é apenas uma crise de segurança — é um ataque estrutural à soberania.”
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