Ex-guerrilheiros ocupam sede da RENAMO e suspendem actividades do partido até saída de Ossufo Momade

Maputo, Moçambique — Um grupo de ex-guerrilheiros da RENAMO ocupou, desde a manhã de quinta-feira, a sede nacional do partido, localizada na cidade de Maputo. A acção culminou, na sexta-feira (dia seguinte), com o anúncio formal da suspensão de todas as actividades políticas da RENAMO a nível nacional, incluindo o encerramento das suas delegações provinciais e distritais.

Segundo os manifestantes, a ocupação e paralisação das actividades partidárias irão manter-se até que Ossufo Momade abandone a liderança da organização. A acção foi descrita como um acto de “resgate dos ideais de Afonso Dhlakama”, figura histórica e carismática da RENAMO.

A equipa de reportagem chegou à sede nacional da RENAMO por volta das 6 horas de sexta-feira, onde encontrou o edifício já sob controlo dos desmobilizados. Durante as primeiras horas, os ocupantes mantiveram-se em silêncio, remetendo-se para uma conferência de imprensa agendada para mais tarde.

Por volta das 8 horas, os ex-combatentes decidiram quebrar o silêncio. Em declarações públicas, confirmaram a ocupação da sede como uma acção de pressão directa à liderança de Ossufo Momade. “O nosso foco agora é tirar o Ossufo Momade da cadeira”, afirmou João Machava, porta-voz do grupo. Quando questionado sobre quem deverá suceder a Momade, respondeu: “Isso é com o partido, não connosco.”

Machava, visivelmente nervoso, reforçou que a intenção do grupo é restaurar os princípios e valores defendidos por Afonso Dhlakama. Durante a ocupação, os manifestantes destruíram panfletos e cartazes com a imagem de Ossufo Momade, tanto na sede nacional como noutras estruturas do partido espalhadas pelo país.

Na conferência de imprensa, os ex-guerrilheiros anunciaram a suspensão imediata de todas as actividades políticas do partido, declarando que nenhuma brigada ou delegação poderá funcionar nas províncias e distritos enquanto Momade permanecer na liderança. “Ossufo Momade não pode continuar a brincar com o povo. Já suspendemos tudo”, sublinhou o porta-voz.

Afirmando-se como legítimos detentores do partido, os ex-combatentes defenderam que a autoridade da RENAMO reside nos seus desmobilizados, desvalorizando a actual direcção política. “Temos autoridade mais que suficiente, porque nós somos os donos do partido. O dono do partido é o desmobilizado”, afirmou Machava.

Os manifestantes disseram ainda não temer retaliações e alegaram a existência de “esquadrões da morte” dentro da própria RENAMO. “Não temos medo. Estivemos 16 anos na guerra. Já vivemos isso tudo”, disse Machava, reiterando que pretendem permanecer na sede até “a derrocada do regime”.

Sem avançar o número exacto de ocupantes, o grupo assegura que mais ex-guerrilheiros solidários à causa estão a caminho de Maputo. Alguns deverão juntar-se à ocupação da sede nacional, enquanto outros têm como destino a residência oficial de Ossufo Momade, também localizada na capital do país.