O Presidente do Conselho Islâmico de Moçambique, o sheik Aminuddin Muhammad, refere que a morte do comerciante ruandês, crivado de balas no início da noite de segunda-feira, retrai os investimentos estrangeiros, tendo em conta que a ambição de todos é a paz, “porque é a condição para o desenvolvimento económico do país”. Para o Teólogo o Estado fez grandes sacrifícios para obter a paz, a qual segundo ele, o Governo deve criar mecanismos de segurança para aumentar a confiança na comunidade empresarial, pois desta forma não será possível atrair novos investidores para o país, numa altura em que o Presidente da República Filipe Nyusi manifestou a sua intenção de candidatar Moçambique à presidência não definitiva do Conselho de Segurança das Nações Unidas.00
Karemandingo Revocat que se encontrava exilado no país desde a década 90, na sequência de uma perseguição movida pelo regime de Paul Kagamé, que era membro da Associação dos Refugiados Ruandeses em Moçambique, onde desempenhava a função de chefe da Comissão de Património foi regado de balas por volta das 17 horas quando saía da sua farmácia localizada no bairro da Liberdade, junto das bombas da Galp, curiosamente uma zona bastante movimentada. Testemunhas no local acreditam que a vítima já vinha sendo seguida há alguns dias.
As informações ainda são escassas, mas segundo apurou o Jornal Visão a vítima mortal já vinha recebendo ameaças de morte por parte de autoridades do seu país de origem. Em 2016 escapou à morte após um atentado à sua vida.
Contactado pelo Jornal Visão, o Presidente da Associação dos Refugiados de Ruanda em Moçambique caracteriza o ambiente actual vivido pela comunidade ruandesa como sendo de grande terror, sobretudo depois da chegada da tropa daquele país, que inclui agentes da polícia, serviços secretos e supostos esquadrões da morte.
“Desde que a força ruandesa que está em Cabo Delgado chegou vivemos numa situação de insegurança. Todos os dias os meios de comunicação de Ruanda falavam do nome dele e outros irmãos que estão a ser caçados pelo regime. Já estávamos a espera que a qualquer momento ia acontecer isto. Informamos ao Instituto Nacional de Apoio aos Refugiados que havia essa ameaça, mas nada foi feito”, lamentou Cleophas Habiyareme.
“Estamos todos chocados com o que está a acontecer connosco. Estamos preocupados porque o governo de Moçambique não se mostra interessado a nos garantir segurança necessária, entanto que exilados. A nossa situação está caótica”, desabafou Cleophas, lembrando que este é terceiro caso em menos de quatro meses.
O primeiro caso teve lugar em Maio último, quando o jornalista ruandês Ntamuhanga Cassien, que se encontrava exilado na ilha de Inhaca, Maputo, desapareceu em circunstâncias não esclarecidas. Mais tarde, descobriu-se que estava encarcerado na 18.ª esquadra na Cidade de Maputo, de onde depois foi lavado para a embaixada do seu país e neste momento está em parte incerta.
O segundo caso teve lugar há menos de um mês quando o Secretário-geral da Associação dos Ruandeses em Moçambique, Byiringiro Wellars e seu irmão Niyonteze Jean-Jacques foram “raptados”, no bairro de Zimpeto na cidade de Maputo, tendo sido levados à Matola, mantidos na Esquadra Policial de T-3, de onde só seriam libertos 24 horas depois, após uma forte intervenção da Comunidade Ruandesa junto do Governo.
Aquele incidente reforçou a ideia de que o envio de tropas daquele país para ajudar a combater os insurgentes em Cabo Delgado pode ser uma moeda de troca para uma solução extra-legal visando acomodar um velho pedido de Kigali para a colaboração de Moçambique na caça aos adversários exilados no país.
Trata-se de um interesse antigo, que em 2016 levou o Presidente Ruandês a escalar Maputo, onde fez um pedido formal para a viabilização de um acordo bilateral de extradição, com vista a garantir a perseguição de 12 indivíduos procurados pela justiça daquele país, “escondidos em Moçambique”, associados a crimes relacionados com o genocídio de 1994. Na altura não houve nenhum acordo entre as partes.
Para além de Cassien, o Jornal Visão sabe que o regime de Kigali, conhecido por perseguir e eliminar opositores, está a caçar em Moçambique outros quatro ruandeses, que vivem neste momento como fugitivos no país de asilo.
A cavalaria do Ruanda é composta pelas Forças de Defesa do Ruanda (RDF) e a Polícia Nacional do Ruanda (RNP). A inclusão da polícia alimenta os temores da comunidade ruandesa que acredita que haja uma missão clara de, enquanto se combate o terrorismo, haver caça a alvos já identificados em Moçambique.
De referir que até ao fecho desta edição, um comunicado enviado à nossa redacção indicava que as cerimónias de despedida e religiosas de Karemangiro Revocat serão na sua residência no bairro da Liberdade no município da Matola, província de Maputo e de seguida os restos mortais depositados no cemitério de Michafutene no distrito de Marracuene, sexta-feira(17), às 9 horas.
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