Igreja Católica exige devolução de património e desafia lentidão do Estado

NAMPULA – A tensão está lançada entre a Igreja Católica e o Governo moçambicano, num braço-de-ferro cada vez mais visível e que promete reacender memórias amargas do período das nacionalizações. Em causa está a não devolução de imóveis e infra-estruturas que, segundo a Igreja, lhe pertencem por direito e foram meramente emprestados ao Estado para fins transitórios.

Na vanguarda desta exigência está Dom Inácio Saúre, arcebispo de Nampula, que não mediu palavras ao apresentar a sua inquietação ao Secretário de Estado da província. Com firmeza, reivindicou a restituição de edifícios emblemáticos como o da UNIROVUMA e outros imóveis espalhados por Nampula, que a Igreja pretende utilizar em programas sociais, pastorais e educativos.

Dom Saúre foi categórico: “Não se pode falar de reconciliação, justiça social e desenvolvimento enquanto se retém o que não é da sua propriedade. A Igreja não mendiga, mas reclama o que é seu.”

O Secretário de Estado, numa postura diplomática, mas evasiva, reconheceu que o processo é antigo e “merece atenção”, citando episódios passados de restituições patrimoniais. No entanto, há indícios preocupantes de que parte dos edifícios reivindicados poderá ser incorporada na futura cidadela administrativa, o que levanta sérias questões sobre a intenção real do Governo.

Nos bastidores, a Igreja Católica vê este arrastar do processo como um sinal de má-fé e um golpe silencioso à sua histórica contribuição para o país. Fontes ligadas à arquidiocese afirmam que a paciência da Igreja está a esgotar-se, e que, se necessário, poderá escalar o caso para instâncias superiores, inclusive internacionais.

Este impasse lança uma nuvem sobre a relação entre o Estado e uma das instituições mais influentes da sociedade moçambicana, sugerindo que o respeito pelo património e pela história poderá estar a ser sacrificado em nome de interesses burocráticos mal disfarçados.

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