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Implicações psicológicas da união prematura na rapariga

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A UNIÃO PREMATURA é a junção de duas pessoas com a finalidade de constituir família, sendo ambas ou uma delas menor de dezoito anos. Na maioria dos casos, isto acontece entre um homem mais velho e uma menina.

A literatura aponta três causas principais das uniões prematuras, a saber: a predominância da cultura patriarcal na sociedade moçambicana; a modalidade e determinados conteúdos dos ritos de iniciação, na medida em que uma parte do conteúdo desses ritos assenta na promoção de um quadro cognitivo-cultural de “formatação da mentalidade” das crianças para serem seguidoras cegas da cultura patriarcal; e a pobreza multidimensional.

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Um dos factores de risco ao nível comunitário é o facto de a idade não ser o principal indicador para avaliar a maturidade de uma rapariga para o casamento. Outros factores como a estrutura física e a frequência da escola secundária costumam ser mais relevantes para considerar que ela já esteja pronta para casar.

Os dados do Governo de Moçambique (GdM, 2015) relatam que 41% das raparigas e 11% dos rapazes menores de 18 anos são casados ou vivem com alguém como se fossem casados. Alude, o mesmo documento, que o país ocupa o décimo lugar ao nível do mundo em termos de prevalência de uniões prematuras, em que 14% das mulheres entre os 20 e 24 anos casaram antes dos 15 anos e 48% casaram antes dos 18 anos.

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Segundo a UNICEF, a união prematura tem profundas implicações físicas, intelectuais, psicológicas e emocionais, tanto para meninas assim como para rapazes, limitando as oportunidades educacionais e de desenvolvimento pessoal.

Para as raparigas, foco principal no presente texto, a união prematura está muitas vezes associada à gravidez precoce, que causa taxas mais elevadas de mortalidade materna, e uma vida marcada por submissão doméstica e sexual, tornando as raparigas mais vulneráveis às infecções transmissíveis sexualmente.

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Ainda mais, raparigas envolvidas em uniões prematuras “quebram” o seu ritmo de desenvolvimento físico, psicológico e cognitivo conforme as expectativas normativas, o que igualmente pode acelerar o seu envelhecimento precoce, bem como comprometer a sua saúde mental. Outrossim, dada a sua idade cronológica, podem desenvolver transtornos de personalidade e de conduta, podendo se estressar com maior facilidade, apresentar ansiedade acentuada, depressão, comportamentos hostis, entre outros aspectos psicológicos.

A criminalização e estigmatização das uniões e dos casamentos envolvendo raparigas a nível da opinião pública levanta desafios na produção de conhecimento sobre estas práticas. Com efeito, de acordo com os escritos científicos, os adolescentes e adultos envolvidos ou com intenções de envolvimento neste tipo de relações, procuram partilhar apenas opiniões sobre aspectos aparentemente positivos das uniões prematuras, imaginando que estas serão aceites pelos investigadores.

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Para reverter os cenários destas uniões, em Julho de 2019, o Parlamento Moçambicano aprovou a Lei de Prevenção e Combate às Uniões Prematuras, onde a união com um(a) menor de idade é considerada um crime e é punida com prisão e multas para os envolvidos. As estratégias para reverter o drama das uniões prematuras, estão agrupadas em três categorias, sendo: a curto, médio e longo prazos.

A curto prazo, está em destaque a defesa de uma reforma legal, a qual se baseia na difusão das leis da Família (Lei 10/2004) e de Promoção e Protecção dos Direitos da Criança (Lei 7/2008), as quais estabelecem, de modo geral, proibições claras no domínio das uniões prematuras tendo como premissa que o combate às uniões prematuras só poderá produzir resultados se for adoptada como uma lei que introduza, reafirme e cristalize os princípios que privilegiam a protecção dos interesses e direitos da criança, numa perspectiva de direitos humanos.

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A médio prazo, defende-se a ideia de que é crucial que a escola e o casamento sejam mutuamente exclusivos, o que implicam que medidas possam e devam ser tomadas para proporcionar oportunidades para que as raparigas já casadas voltem à escola; e a promoção do empoderamento económico da mulher, onde as raparigas e suas famílias precisam de melhorar as suas perspectivas económicas, dado que somente quando elas poderem colher os benefícios económicos do investimento na sua educação é que se poderá garantir o incentivo muito forte para atrasar a idade de casamento.

A longo prazo, torna-se necessário influenciar a mudança sócio-cultural com vista se alcançar a eliminação das uniões prematuras ou uma redução aceitável dos índices de sua ocorrência. Parte-se do pressuposto de que o casamento é uma instituição moldada pelas atitudes sociais e, por isso, deve-se provocar mudanças para que o casamento ocorra mais tarde através de intervenções com foco em famílias para posteriormente provocar alterações de atitudes e comportamentos ao nível mais amplo.

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