João Pó Jorge e a Construção do Futuro da Aviação Africana

João Pó Jorge encontra-se, presentemente, a prestar serviços de assessoria a companhias aéreas no continente africano, com o objectivo principal de promover a conectividade inter-africana. Esta iniciativa enquadra-se na estratégia africana para o reforço da ligação entre os países do continente, tendo em vista os objectivos estabelecidos na Agenda 2063, que procura transformar África numa potência global. Um dos aspectos mais notáveis desta agenda é a promoção de voos directos entre destinos africanos, eliminando a necessidade de passar pela Europa para viagens dentro do próprio continente. Trata-se de um passo significativo para a integração regional e o fortalecimento das economias locais.

No âmago desta estratégia está a Declaração de Yamoussoukro, da qual derivou o Mercado Único de Transporte Aéreo Africano (Yamoussoukro), uma plataforma fundamental para a criação de um espaço aberto ao comércio e à mobilidade dentro do continente.

A SAATAM (Single African Air Transport Market) é uma das iniciativas que emergem deste esforço, visando a liberalização do transporte aéreo em África e a criação de um ambiente mais favorável ao crescimento económico por meio da aviação.

Neste contexto, destaca-se também a AVIADEV, uma instituição que desempenha um papel preponderante na promoção de encontros estratégicos entre os principais intervenientes do sector aéreo africano.

Através de conferências, workshops e outras actividades, a AVIADEV procura encontrar soluções práticas e eficazes para os desafios que ainda persistem na conectividade aérea em África. Uma das suas iniciativas de maior relevância é a produção de um podcast mensal, dedicado a explorar temas variados relacionados com a aviação e a interligação entre as diversas regiões do continente.

A AVIADEV Africa apresenta-se como uma plataforma ímpar, destinada a promover a conectividade aérea dentro, para e a partir de África. A sua abordagem integra aeroportos, companhias aéreas, autoridades turísticas, governos e fornecedores da indústria.

Além disso, oferece aos participantes a oportunidade de agendar reuniões previamente em ambientes profissionais, bem como disponibiliza conteúdo digital relevante, como ‘podcasts’, vídeos e publicações em redes sociais. Desde 2018, a AVIADEV tem produzido o AviaDev Insight Africa, o único podcast inteiramente dedicado à aviação africana.

Em Moçambique, o panorama da aviação apresenta características particulares. Embora o fluxo de passageiros seja reduzido em comparação com outros países africanos, o potencial para crescimento é considerável. O país destaca-se pela sua riqueza em recursos naturais, incluindo grandes projectos ligados às indústrias petrolífera, mineira, agrícola e de exploração de gás natural, bem como pelo seu potencial turístico.

A indústria do turismo, em particular, constitui um dos sectores com maior margem de crescimento, impulsionada por atractivos como praias paradisíacas, oportunidades de pesca desportiva e lazer, e a proximidade geográfica com a África do Sul, que serve como ponto de entrada para muitos visitantes.

De acordo com Pó Jorge, Moçambique já atingiu uma população de cerca de um milhão de passageiros em serviços aéreos, dos quais 40% tinham fins turísticos, sendo a maioria proveniente da África do Sul. Este desempenho coloca o país em vantagem relativamente a destinos insulares como as Maldivas, Comores e Ilhas Maurícias, devido à sua acessibilidade e diversidade de ofertas.

Dados recentes demonstram um aumento substancial no turismo em Moçambique. Em Abril de 2023, a Ministra da Cultura e Turismo, Eldevina Materula, revelou que o país recebia semanalmente cerca de 16 mil turistas estrangeiros, representando um incremento superior a 35% em relação ao período pós-pandémico.

Em Agosto de 2023, mais de 13 mil cidadãos estrangeiros entraram no país, grande parte deles turistas, beneficiando das recentes isenções de vistos implementadas pelo governo. No primeiro trimestre de 2024, o turismo cresceu 57%, impulsionado por medidas como a introdução de uma plataforma digital para requisição de vistos e a isenção de vistos de turismo e negócios para determinados países.

Estas acções aumentaram a competitividade de Moçambique enquanto destino turístico, facilitando igualmente o acesso de investidores estrangeiros.

Entre Janeiro e Setembro de 2023, registaram-se cerca de 1,2 milhões de hóspedes em Moçambique, um crescimento de 23% face ao mesmo período de 2022, que contabilizou 965 mil hóspedes. O turismo gerou receitas na ordem dos 221 milhões de dólares americanos em 2023, ilustrando o impacto económico positivo deste sector.

Contudo, os serviços aéreos têm registado um aumento modesto de apenas 25% na última década, um crescimento comprometido por factores como a instabilidade política, os impactos da pandemia de COVID-19 e desafios económicos e sociais.

João Pó Jorge mantém-se optimista quanto ao futuro da aviação e do turismo em Moçambique. Reconhece que a instabilidade actual no país é temporária e acredita que os números poderão recuperar em breve, com previsões mais favoráveis até à Páscoa de 2025. Contudo, salienta que problemas estruturais, como a falta de infraestruturas adequadas e a redução de reservas em hotéis devido a cancelamentos, devem ser resolvidos para se alcançar um crescimento sustentável.

A retoma da estabilidade política e social será crucial para melhorar a atractividade do país enquanto destino turístico, sobretudo no sector da aviação, que tem registado um desempenho aquém das expectativas nos últimos 10 anos, conforme um estudo recente do Banco Mundial.

Em síntese, Moçambique dispõe de potencialidades significativas para se afirmar como um dos principais destinos turísticos e económicos de África.

No entanto, a concretização deste objectivo dependerá de medidas estruturais da resolução dos desafios, de iniciativas de formação intensiva do capital humano jovem e da resolução dos desafios existentes.