“José era visto como o genro dos sonhos — trabalhador, generoso e sustentando uma casa cheia. Depois de três anos de casamento com Nilsa, tudo mudou.”
Mas como se chega a esse ponto? Como é que o “homem da mina” virou alvo de desprezo, rejeição e solidão?
Tudo começou no dia do casamento…
Na porta do palácio dos casamentos, um escândalo familiar antecipava o desfecho: a mãe de José não foi convidada.
A razão? Uma briga antiga, e uma acusação grave:
“Enfeitiçaram o meu filho com o brilho do dinheiro vindo das minas!” — dizia a mãe de José, temendo que o amor fosse apenas um truque para aceder ao seu bolso.
Do luxo ao lixo emocional
Com os bolsos cheios dos “randes” sul-africanos, José trocou o sonho da casa própria pelo conforto da casa dos sogros. Ali, foi tratado como um verdadeiro rei.
Mas o brilho não dura para sempre…
Quando o dinheiro evaporou, evaporou também o respeito.
Sem emprego e com o bolso murcho, José passou de “provedor” a “estorvo”.
A dor de lavar e ser descartado
Enquanto o desemprego se arrastava, José tentava compensar:
“Lavava a roupa dela, das crianças… e a minha. Eu fazia a minha parte.”
Mas a esposa, Nilsa, tinha outros planos.
Vendeu o vestido de noiva, os sapatos… e até as alianças. Disse que era por causa da fome.
“A fome vende até memórias,” lamenta José.
8000 Meticais e nenhum valor
Conseguiu um novo emprego como segurança.
Salário? 8000 meticais.
Muito pouco comparado com o que costumava trazer das minas.
“Na casa dos sogros, 8000 meticais valem menos que silêncio. Não paga sequer um mês de respeito.”
Foi posto para fora. Sem perdão, sem vestígios de amor.
Nilsa, a esposa, fugiu de uma reunião familiar que buscava salvar o casamento. Nunca mais apareceu.
Levou a criança.
Levou também o silêncio, a culpa e a frieza.
“Transformaram o lar em tribunal. Só que aqui, o acusado é sempre o pobre.”
E a família de José? Em choque.
A irmã dele foi clara:
“Essa mulher vai matar o nosso irmão! Dorme com outros homens enquanto ele está ali, na casa dele!”
José quer justiça. Quer respostas. Quer, acima de tudo, uma compensação.
“Investi, cuidei, alimentei, aguentei. E agora… sou só mais um que já não serve.”
A gota final: o irmão de Nilsa
José acusa Michaque, o irmão mais velho da esposa, de ter “esbanjado o seu dinheiro” e contribuído para a ruína do casamento.
Agora, José bate à porta com lágrimas nos olhos e voz embargada:
“Quero pelo menos o que é meu. Se não é amor, que seja justiça.”
O desfecho que ninguém quer viver:
Dos “randes” ao abandono. Da honra à humilhação.
O casamento virou ruína. O sonho virou pesadelo.
Restam-lhe apenas memórias, arrependimentos e um pedido tardio de acolhimento nos braços da mãe.