CAPA
LÍDERES DA MANIFESTAÇÃO INTERROMPEM MARCHA EM MAPUTO PARA EVITAR CONFLITOS VIOLENTOS: A LUTA PELA JUSTIÇA CONTINUA

Uma manifestação pacífica organizada por jovens activistas em Maputo foi interrompida de forma estratégica pelos próprios líderes do movimento, como medida preventiva para evitar confrontos violentos e possíveis perdas de vidas. A intervenção ocorreu quando os organizadores perceberam a possibilidade de uma escalada de violência e, com grande inteligência e sensatez, decidiram suspender a marcha para proteger os participantes, sem que houvesse qualquer acção coercitiva por parte da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), a polícia de choque moçambicana.
A manifestação tinha como principal objectivo consciencializar a população e protestar contra as contínuas violações dos direitos humanos, a impunidade e as detenções arbitrárias que têm marcado a realidade política de Moçambique. Segundo Clemente Carlos, um dos organizadores, a decisão de interromper a marcha não foi fruto de pressão externa, mas de uma análise prudente da situação.
“Optámos por interromper a marcha de forma inteligente para evitar que houvesse vítimas. Não havia necessidade de expor as pessoas a um risco desnecessário. A nossa luta é por justiça, não pela violência.”
A marcha, que visava alcançar a Procuradoria Geral da República e o Comando Geral da Polícia para entregar um manifesto de protesto, estava a ser acompanhada por um contingente policial considerável. No entanto, os manifestantes não foram directamente atacados, e as autoridades tentaram exercer qualquer forma de repressão agressiva durante o evento.
“A nossa decisão de interromper a marcha foi tomada com responsabilidade. O nosso objectivo sempre foi dar voz à nossa indignação, não criar confrontos. A segurança das pessoas é o mais importante,” afirmou outro activista.
Embora os manifestantes tenham expressado a sua frustração pela interrupção, houve um consenso de que a integridade física de todos os envolvidos deveria ser priorizada.
“Nós não precisávamos de seguir o itinerário planeado para fazer a nossa voz ser ouvida. A verdadeira marcha é aquela que fazemos com a nossa consciência, e neste momento, estamos a mostrar que a nossa coragem está intacta,” disse um dos participantes.
O manifesto que os activistas pretendiam entregar expunha, entre outros pontos, a falta de avanços nas investigações sobre mortes e detenções ocorridas em manifestações anteriores, e a aparente impunidade de figuras responsáveis pela repressão. O documento destacava a exigência de justiça e responsabilização, reiterando que a marcha não visava desafiar a autoridade, mas sim exercer um direito legítimo de manifestação em defesa dos direitos humanos.
Em um momento de reflexão, um dos organizadores questionou a verdadeira essência da democracia e o papel das instituições de justiça no contexto actual do país:
“Estamos em um estado democrático, e é este sistema que precisamos reforçar. A verdadeira luta por justiça não deve ser confundida com violência. A nossa democracia é a nossa maior força.”
Apesar da interrupção, os activistas não viram a ação como uma derrota, mas sim como uma forma de preservar a vida e garantir que a mensagem chegasse aos corações e mentes de todos os moçambicanos.
“A nossa luta pela verdade e pela justiça continua, não importa o que aconteça. Mesmo sem marcharmos fisicamente, nossa mensagem já foi espalhada pelo país,” concluíram com determinação.
A presença de representantes da diáspora moçambicana, que se uniram à causa, foi um sinal claro de que a luta por um Moçambique mais justo e democrático transcende fronteiras.
“Não podemos fugir. Devemos lutar com coragem, união e esperança para construir o Moçambique que todos desejamos,” disse um dos representantes.
A interrupção inteligente da marcha foi, portanto, uma decisão calculada pelos líderes do movimento para garantir a segurança e evitar derramamento de sangue, mas a luta pela justiça e pelo respeito aos direitos humanos permanece firme. “A luta continua,” afirmaram, com convicção.