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Luciano Analisa a Dinâmica do Mercado de Cimento em Moçambique: Regulação, Exploração e Impactos no Salário Mínimo

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Matola, Moçambique – Em intervenção incisiva durante o programa #InteracçãoMatinal, o jornalista e apresentador da Miramar expôs os bastidores e as complexidades que envolvem o mercado de cimento em Moçambique. Baseado em imagens em tempo real e numa análise detida dos factores que influenciam os preços, o apresentador alertou para a necessidade de «não dispararem no escuro», quando se tratam de medidas que possam afectar tanto os revendedores como os exploradores deste insumo essencial para a construção civil.

Regulação e a Importância da Transparência

Luciano iniciou a sua explanação realçando que, num cenário onde a informação se faz presente em tempo real, é fundamental agir com precisão. «Não é possível atirar no escuro», advertiu, enfatizando que as decisões devem ser fundamentadas em dados concretos. Sublinhou que a definição dos preços do cimento – bem como dos preços das portagens e da exploração dos recursos minerais – passa necessariamente pelo crivo governamental, através de decretos e regulamentos que visam equilibrar o mercado e proteger o consumidor.

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Segundo o apresentador, o papel do Governo é central neste contexto: os preços mínimos estipulados pelo Estado não só regulam o mercado, mas garantem que os custos estejam em consonância com a realidade económica do país. Mesmo diante das críticas e dos protestos populares relativamente aos elevados valores cobrados, a origem do problema não pode ser atribuída de forma simplista aos pequenos comerciantes – as chamadas «ferragens» que revendem cimento. «Não devemos atacar aqueles que, ao abrir um negócio, pretendem igualmente ganhar a vida», asseverou Luciano, sublinhando a importância de se identificar o verdadeiro «alvo»: os exploradores e o próprio mecanismo de regulação.

A Dualidade entre Revendedores e Exploradores

Durante a sua análise, o apresentador diferenciou claramente os papéis no mercado do cimento. Enquanto os pequenos comerciantes, que se limitam à revenda do produto, operam com margens de lucro reduzidas – frequentemente não ultrapassando os 15 meticais por saco –, os verdadeiros protagonistas – e, segundo ele, os responsáveis por uma parte significativa do problema – são as empresas exploradoras, que controlam a extracção do calcário, matéria-prima que compõe cerca de 90% do cimento.

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Luciano enfatizou que o calcário, abundante em Moçambique, está distribuído estrategicamente por diversas regiões do país, como em Chibabava, na Província de Sofala, e noutras zonas de exploração em Nampula, Gaza e até em áreas próximas a Matutuine. Esta abundância, contudo, contrasta com os elevados custos de produção e, consequentemente, com os preços finais do cimento, os quais podem oscilar entre 460 e 600 meticais por saco. «O que devemos compreender é que a questão não se resume à venda, mas à origem dos custos e à forma como estes são repassados ao consumidor final», pontuou.

Impactos na Economia e no Custo da Habitação

Um dos pontos mais contundentes da intervenção de Luciano foi a crítica à desfasagem entre o salário mínimo e o custo dos insumos básicos, como o cimento. Explanou que, com o salário mínimo fixado em cerca de 9.000 meticais para a função pública, o poder de compra dos trabalhadores torna-se insuficiente para adquirir os materiais necessários à construção de uma habitação digna. «Com um saco de cimento a 500 meticais, o cidadão consegue comprar apenas 18 sacos – montante insuficiente para edificar uma casa condigna», explicou.

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Ademais, Luciano recordou que a Constituição moçambicana prevê a promoção de programas habitacionais destinados a garantir o bem-estar da população. Contudo, a discrepância entre o preço do cimento e o poder aquisitivo dos cidadãos compromete o acesso à moradia, instaurando um ciclo de insustentabilidade social e económica. Assim, conclamou o Governo a prestar contas de forma transparente, explicando detalhadamente os custos associados à exploração do calcário e os factores que elevam o preço do cimento.

A Urgência de Uma Revisão Estratégica

Para Luciano, a solução não reside em ataques directos aos revendedores, mas num diálogo que envolva tanto o Governo como as empresas exploradoras. Defendeu que uma revisão das políticas de exploração e uma reavaliação dos regulamentos de concorrência se fazem necessárias para que o preço do cimento se torne compatível com as condições socioeconómicas da população. «É mister olhar para a fonte, compreender os custos de exploração do calcário e buscar alternativas que permitam a redução dos preços, sem que isto prejudique a cadeia produtiva», concluiu.

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Num contexto assinalado por desafios económicos e sociais, a análise de Luciano põe de relevo questões fundamentais acerca da transparência, da responsabilidade dos agentes económicos e da necessidade de políticas públicas que priorizem o bem-estar do cidadão. Enquanto o debate sobre os preços do cimento se mantém aceso, a discussão estende-se para outras áreas que impactam directamente a vida dos moçambicanos, tais como a habitação e o desenvolvimento de infra-estruturas sustentáveis.

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