Minutos antes de sua morte: De Klerk pediu perdão ao povo sul-africano pelo “apartheid”

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O antigo Estadista sul-africano Frederick De Klerk deixou uma mensagem póstuma, divulgada hoje logo a seguir a sua morte, em que pede “desculpas pela dor e o sofrimento, a indignidade e os danos” causados aos negros, mulatos e indianos.

De Klerk, que surge magro e frágil no vídeo, diz que em muitas ocasiões lamentou “a dor e a indignidade” que o regime do ‘apartheid’ provocou nas pessoas de cor na África do Sul.

“Esta é a minha última mensagem dirigida ao povo da África do Sul”, diz Frederick De Klerk no início do vídeo, colocado na página electrónica da Fundação FW de Klerk pouco após a morte do ex-presidente.

O antigo presidente diz falar como antigo dirigente do Partido Nacional, que impôs o regime do ‘apartheid’ em 1948, mas também como pessoa.

“Muitos acreditaram em mim, mas outros não”, admitiu.

“Por isso deixem-me hoje, nesta última mensagem, repetir: Eu, sem reservas, peço desculpa pela dor e o sofrimento, e a indignidade, e os danos aos negros, mulatos e indianos na África do Sul”, declarou o antigo chefe de Estado.

Reconhecendo que defendeu a segregação do ‘apartheid’ na juventude e mesmo como deputado e ministro, De Klerk garante que a sua opinião “mudou completamente” no início dos anos 1980, evocando uma experiência próxima de uma conversão.

“No fundo do meu coração, tomei consciência de que o ‘apartheid’ era um erro, que tínhamos chegado a um local moralmente injustificável”, conclui.

O antigo presidente sul-africano Frederik W. de Klerk, o último chefe de Estado da era do ‘apartheid’ da África do Sul, morreu hoje na Cidade do Cabo aos 85 anos, vítima de cancro.

De Klerk morreu após uma batalha contra o cancro na sua casa, na zona de Fresnaye, na Cidade do Cabo, confirmou hoje um porta-voz da Fundação F.W. de Klerk.

Foi De Klerk, que partilhou o Prémio Nobel da Paz com Nelson Mandela, que, num discurso proferido no parlamento da África do Sul no dia 2 de Fevereiro de 1990, anunciou que aquele que seria o primeiro presidente negro da África do Sul, seria libertado da prisão após 27 anos de cativeiro.

O anúncio electrizou na altura o país, que durante décadas tinha sido desprezado e sancionado por grande parte da comunidade internacional pelo seu brutal sistema de discriminação racial conhecido como ‘apartheid’.

Com o aprofundamento do isolamento da África do Sul e a sua economia outrora sólida a deteriorar-se, De Klerk, que tinha sido eleito presidente apenas cinco meses antes, anunciou também no mesmo discurso o levantamento da proibição do Congresso Nacional Africano (ANC) e de outros grupos políticos anti-‘apartheid’.

Vários membros do parlamento abandonaram nesse dia a câmara enquanto o presidente discursava.

Nove dias mais tarde, Mandela saiu em liberdade e quatro anos depois seria eleito o primeiro presidente negro do país, em resultado de os negros terem pela primeira vez exercido o direito de voto.

De Klerk e Mandela receberam o Prémio Nobel da Paz em 1993 pela sua cooperação, muitas vezes intensa, no processo de afastamento da África do Sul do racismo institucionalizado e em direcção à democracia.

Jornal Visão Moçambique
Author: Jornal Visão Moçambique

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