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Moçambique: Cinco Décadas de Poder Ininterrupto e um Modelo Democrático em Suspensão

Investigação profunda sobre a consolidação do poder pela FRELIMO desde a independência de Moçambique, a estrutura do sistema multipartidário e os efeitos sociais e económicos da governação.

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A independência de Moçambique de Portugal, alcançada a 25 de Junho de 1975, representou o culminar de uma guerra de libertação de 11 anos, liderada pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). A FRELIMO, inicialmente uma coligação de grupos anti-coloniais, foi formada em 1962 sob a liderança de Eduardo Mondlane. O processo de independência foi significativamente facilitado pela Revolução dos Cravos em Portugal, em Abril de 1974, que derrubou o regime salazarista e abriu caminho para a descolonização dos territórios ultramarinos portugueses.

Quase cinquenta anos depois da proclamação da independência de Moçambique, a estrutura do poder político continua a girar em torno de um único epicentro: a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).

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Desde a conquista da soberania em 1975, passando por um dos mais longos e sangrentos conflitos civis em África, até à transição constitucional de 1990, o país vive sob o signo de uma democracia formal, mas com tendências de centralização do poder. Esta reportagem investigativa percorre os marcos que moldaram o sistema político moçambicano, os bastidores da sua manutenção e as consequências sociais de quase meio século de um domínio partidário constante.

A longa luta pela libertação moldou profundamente a ideologia política inicial e o papel de liderança da FRELIMO no Moçambique pós-independência.

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O fim abrupto do domínio português levou a uma transição rápida, acompanhada de desafios socioeconómicos consideráveis. A duração da guerra (11 anos) demonstra um desejo profundo de independência, e a liderança da FRELIMO durante este período estabeleceu a sua legitimidade. O colapso repentino do regime português criou um vazio de poder que a FRELIMO estava posicionada para preencher, mas também significou a ausência de uma transição gradual e potencial instabilidade.

No contexto socio-político inicial, foi estabelecida a República Popular de Moçambique, um estado de partido único marxista-leninista liderado pela FRELIMO.

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Samora Machel tornou-se o primeiro presidente do país.5 Actividades políticas rivais foram proibidas e a oposição foi suprimida. Os principais sectores da , incluindo a saúde e a educação, foram nacionalizados.

O país herdou do período colonial infraestruturas deficientes e má gestão económica. Adicionalmente, ocorreu um êxodo em massa de cidadãos portugueses, resultando numa escassez de mão de obra qualificada e de administradores experientes.

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O período imediato pós-independência foi marcado por uma mudança radical na ideologia política e na governação, levando a significativas convulsões sociais e económicas. A adoção de um estado de partido único centralizou o poder e direcionou reformas sociais, mas também criou um ambiente de liberdade política limitada.

A ideologia marxista-leninista da FRELIMO ditou o estabelecimento de um estado socialista, o que implicou a nacionalização de indústrias e serviços. A partida dos portugueses criou um vazio em profissões qualificadas, impactando a implementação destas novas políticas e o funcionamento da economia.

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No âmbito regional, Moçambique ofereceu abrigo e apoio aos movimentos de libertação da África do Sul (ANC) e do Zimbabwe (ZANU). Esta postura levou a retaliações da Rodésia e da África do Sul do apartheid, que fomentaram e financiaram a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO).

A solidariedade regional de Moçambique teve consequências domésticas significativas, contribuindo diretamente para o eclodir da guerra civil e dificultando o desenvolvimento social e económico inicial. Apoiar movimentos anti-coloniais era um princípio fundamental da ideologia da FRELIMO. No entanto, esta posição tornou Moçambique um alvo para regimes vizinhos hostis, que trabalharam activamente para desestabilizar o país, apoiando uma força de oposição interna.

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II. O Estado Socialista de Partido Único (1975-1990)

O governo da FRELIMO consolidou o seu poder como a única entidade política.4 A ideologia marxista-leninista foi adotada como princípio orientador. Houve uma ênfase na unidade nacional e na criação de um “homem novo” (Homem Novo) livre da mentalidade colonial. O controlo centralizado sob uma ideologia socialista visava uma transformação social rápida e a criação de uma identidade nacional unificada, mas enfrentou resistência e desafios práticos.

A adopção de uma ideologia específica moldou todas as políticas governamentais e iniciativas sociais. O foco na criação de um “homem novo” reflete uma ambição de romper com os legados coloniais a um nível fundamental. No entanto, impor tal visão de cima para baixo pode levar à alienação e resistência.

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Foram implementadas reformas sociais significativas nos sectores da educação, saúde e outros.

Na educação, houve uma expansão do acesso como prioridade máxima 5, resultando na redução das taxas de analfabetismo, embora desafios persistissem.5 As escolas privadas e confessionais foram nacionalizadas para unificar o sistema 10, e houve uma ênfase no aumento dos níveis de alfabetização.

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Na saúde, os serviços foram nacionalizados e a prática privada de medicina foi abolida. Foram feitos esforços para criar um Serviço Nacional de Saúde unificado e acessível a todos, particularmente nas áreas rurais, com uma mudança de foco dos cuidados curativos para a população colonizadora para os cuidados preventivos para a maioria. No entanto, o êxodo de médicos após a nacionalização sobrecarregou o sistema.

Outras reformas sociais incluíram a nacionalização de casas abandonadas e propriedades de aluguel para resolver a questão da falta de moradia, o estabelecimento de organizações de massa (trabalhadores, jovens, grupos de mulheres) sob o controlo da FRELIMO, e um foco inicial na agricultura comunal, cooperativa e estatal, que enfrentou resistência.

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O governo socialista realizou esforços significativos para expandir as oportunidades educacionais, abordando as severas limitações da era colonial. No entanto, a rápida expansão muitas vezes ocorreu à custa da qualidade, e as disparidades persistiram. O sistema educacional colonial limitava deliberadamente o acesso para os negros. Após a independência, o governo priorizou a educação como ferramenta para a mobilidade social e o desenvolvimento nacional.

A nacionalização das escolas permitiu um currículo e uma alocação de recursos centralizados, mas a escala da tarefa e a falta de professores qualificados representaram obstáculos significativos.

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A nacionalização da saúde visava abordar as desigualdades do sistema colonial e estender os serviços à maioria. No entanto, a perda de profissionais médicos e os desafios de construir um sistema nacional sob restrições de recursos limitaram a sua eficácia.

A saúde colonial era racialmente segregada e focada em áreas urbanas e na população colonizadora. A nacionalização pretendia criar um sistema mais equitativo.

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A partida de médicos experientes criou uma crise de recursos humanos, impactando a qualidade e o alcance dos serviços de saúde. As políticas sociais iniciais visavam redistribuir recursos e estabelecer um quadro socialista em vários aspetos da sociedade, mas muitas vezes encontraram dificuldades práticas e consequências não intencionais. A nacionalização de habitações visava fornecer abrigo para os sem-abrigo.

A criação de organizações de massa destinava-se a mobilizar e controlar a população em apoio à agenda socialista. As políticas agrícolas, embora impulsionadas ideologicamente, nem sempre se alinhavam com as necessidades e preferências da população rural.

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A Guerra Civil Moçambicana (1977-1992) teve um impacto devastador nas estruturas sociais e no desenvolvimento.1 A RENAMO conduziu uma campanha de terror e sabotagem, visando infraestruturas, escolas e centros de saúde.

Houve violações massivas dos direitos humanos por ambos os lados. O impacto social e económico foi devastador: aproximadamente um milhão de mortes e milhões de pessoas deslocadas internamente e como refugiados.

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As infraestruturas foram enfraquecidas e os serviços sociais foram interrompidos, levando ao aumento da pobreza e ao colapso económico. A guerra civil foi um ponto de viragem importante, minando severamente o progresso social inicial feito após a independência e deixando profundas cicatrizes na sociedade moçambicana. O exacerbou as vulnerabilidades existentes e criou novas.

A guerra desviou recursos do desenvolvimento social para gastos militares. O ataque deliberado da RENAMO à infraestrutura social reverteu muitos dos ganhos na educação e saúde. A violência generalizada e o deslocamento perturbaram comunidades e meios de subsistência, levando ao aumento da pobreza e à fragmentação social.

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III. A Transição para a Democracia Multipartidária (1990-Presente)

Vários fatores levaram à adoção de uma nova Constituição em 1990 e a um sistema multipartidário. O fracasso das políticas socialistas e das reformas económicas iniciadas em meados da década de 1980, juntamente com o reconhecimento pela FRELIMO da necessidade de reformas políticas e económicas, foram cruciais.

As conversações de paz com a RENAMO culminaram nos Acordos Gerais de Paz de Roma (Outubro de 1992).4 A influência da pressão internacional e o fim da Guerra Fria também desempenharam um papel significativo.

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Em Novembro de 1990, foi promulgada uma nova Constituição, estabelecendo um sistema multipartidário, uma economia de mercado e eleições livres. A transição para um sistema multipartidário foi impulsionada por uma combinação de falhas internas do modelo socialista, o impacto devastador da guerra civil e pressões externas pela democratização e liberalização económica.

A estagnação económica e a perturbação social causadas pela guerra tornaram o sistema socialista de partido único insustentável. O colapso do bloco soviético e a mudança no panorama político global reduziram o apoio à ideologia da FRELIMO. As com a RENAMO exigiram reformas políticas para acomodar a oposição.

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O fim da guerra civil e as suas consequências sociais imediatas incluíram a assinatura dos Acordos Gerais de Paz de Roma em 1992, pondo formalmente fim ao conflito de 15 anos.4 Seguiu-se a desmobilização das forças da FRELIMO e da RENAMO 11, bem como o regresso de refugiados e pessoas deslocadas internamente.

O país enfrentou os desafios da reconstrução pós-guerra, incluindo minas terrestres, infraestruturas frágeis e divisões sociais. As primeiras eleições democráticas multipartidárias foram realizadas em Outubro de 1994, com a vitória da FRELIMO sob .

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O fim da guerra civil marcou uma nova era de pluralismo político e o início de um longo processo de recuperação social e económica. A transição foi complexa e repleta de desafios, mas lançou as bases para o desenvolvimento futuro.

Os acordos de paz puseram fim à violência, mas o rescaldo imediato envolveu as difíceis tarefas de reintegração de ex-combatentes e reconstrução de comunidades destruídas. O regresso de populações deslocadas exerceu ainda mais pressão sobre os recursos. As primeiras eleições democráticas foram um passo significativo para o estabelecimento de uma nova ordem política.

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Desde as primeiras eleições multipartidárias, a FRELIMO tem permanecido o partido político dominante. A RENAMO continuou a ser o principal partido da oposição, embora a sua influência tenha diminuído. Surgiram novos partidos da oposição, como o Movimento Democrático de Moçambique () e o PODEMOS, desafiando a dominância da FRELIMO e da RENAMO.

Várias eleições foram marcadas por alegações de eleitoral e violência política. Foram realizadas reformas constitucionais em 1990 e anos posteriores, refletindo a evolução do panorama político.

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Embora Moçambique tenha transitado para uma democracia multipartidária, a FRELIMO manteve um forte controlo sobre o poder, levantando preocupações sobre a justiça e a inclusividade do sistema político. O surgimento de novas forças de oposição sugere um campo de jogo dinâmico, mas ainda desigual. O papel histórico da FRELIMO na luta pela libertação confere-lhe uma forte base de apoio.

No entanto, as persistentes alegações de irregularidades eleitorais levantam questões sobre a legitimidade da sua contínua dominância. A ascensão de novos partidos da oposição indica um desejo de mudança entre segmentos da população.

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IV. Mudanças Sociais sob o Sistema Multipartidário (1990-Presente)

Na educação, houve uma expansão contínua da matrícula no ensino primário. No entanto, persistem desafios na manutenção da qualidade e na formação de professores. Existem disparidades persistentes com base na localização geográfica, género e pobreza. Houve um aumento da ênfase no ensino técnico e superior. O sistema educacional foi impactado pela guerra civil, incluindo a destruição de escolas.

Na área da saúde, o sistema foi expandido para cobrir uma maior parte da população. No entanto, existem desafios relacionados com o financiamento, os recursos humanos e as infraestruturas. A prevalência de doenças tropicais (malária, tuberculose, HIV/SIDA) e a desnutrição continuam elevadas. A infraestrutura de saúde e o acesso foram afetados pela guerra civil.

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As ONGs internacionais desempenharam um papel no fornecimento de apoio à saúde. Houve melhorias na cobertura vacinal e na redução das taxas de mortalidade infantil e materna.

A urbanização e a migração testemunharam um aumento significativo da população urbana desde a independência, impulsionado pela busca de oportunidades económicas e pelos deslocamentos induzidos por conflitos. Cresceram os bairros de lata urbanos, exercendo pressão sobre as infraestruturas e serviços urbanos. Ocorreu migração interna de áreas rurais para urbanas, bem como padrões de migração laboral regional, particularmente para a África do Sul. Inicialmente, as políticas governamentais favoreceram o desenvolvimento rural, mas houve uma atenção crescente aos desafios urbanos.

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As estruturas familiares e os direitos continuam a ser influenciados por costumes tradicionais, coexistindo com quadros legais modernos. Houve mudanças na lei da família, incluindo esforços para combater o casamento infantil e promover os direitos das mulheres.

A migração laboral impactou as estruturas familiares, particularmente as famílias chefiadas por mulheres. Persistem desafios relacionados com a desigualdade de género e a violência contra as mulheres.

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Os valores ocidentais influenciaram as gerações mais jovens, criando um fosso geracional.

A era multipartidária viu progressos na expansão do acesso à educação, mas desafios significativos permanecem na garantia da qualidade e equidade em todo o país. O legado da guerra civil continua a afetar a infraestrutura e os resultados educacionais.

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O setor da saúde registou desenvolvimento desde o fim da guerra civil, com aumento do acesso e algumas melhorias nos indicadores de saúde. No entanto, desafios significativos persistem devido a restrições de recursos, carga de doenças e o impacto duradouro do conflito. Moçambique experimentou uma rápida urbanização, apresentando oportunidades e desafios.

O afluxo de pessoas para centros urbanos sobrecarregou a infraestrutura e os serviços sociais, ao mesmo tempo que alterou as dinâmicas sociais. As estruturas familiares em Moçambique são diversas e estão em evolução, influenciadas pela tradição e pela .

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Embora as reformas legais visem proteger os direitos e promover a igualdade, normas sociais profundamente enraizadas e fatores económicos continuam a moldar a vida familiar.

V. A Interação dos Sistemas Políticos e do Desenvolvimento Social

O Estado de partido único (1975-1990) teve um impacto no desenvolvimento social através do planeamento centralizado e da alocação de recursos direcionados para os objetivos socialistas na educação e saúde. No entanto, houve supressão de vozes dissidentes e participação cívica limitada.

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A guerra civil, alimentada pela oposição política e pelo apoio externo, prejudicou severamente o progresso social.1 Inicialmente, o sistema político, embora priorizasse as reformas sociais, era autoritário e acabou por contribuir para uma guerra civil devastadora que reverteu muitos ganhos no desenvolvimento.

O estado de partido único permitiu o controlo centralizado sobre as políticas sociais, mas a falta de pluralismo político e a supressão da oposição criaram um terreno fértil para o conflito. O impacto da guerra civil na infraestrutura, no capital humano e na coesão social foi imenso.

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A transição para a democracia multipartidária (1990-Presente) trouxe consigo um aumento das liberdades políticas e do espaço cívico, embora muitas vezes contestado. Houve uma mudança para uma economia de mercado, influenciando o bem-estar social e a desigualdade.

A dominância da FRELIMO teve implicações na implementação de políticas e na equidade social. As instituições democráticas tiveram um impacto na responsabilização social e na prestação de serviços (embora com limitações).

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Os desafios da corrupção e o seu impacto nas iniciativas de desenvolvimento social persistem. A mudança para a democracia multipartidária trouxe liberdades políticas e uma economia de mercado, que tiveram impactos positivos e negativos no desenvolvimento social. Embora as oportunidades tenham aumentado, as desigualdades também cresceram, e a dominância de um único partido levantou preocupações sobre a governação e a responsabilização.

A introdução de instituições democráticas permite teoricamente uma maior participação cidadã e responsabilização governamental. No entanto, a contínua dominância da FRELIMO e as questões de corrupção têm dificultado a plena realização destes benefícios para todos os moçambicanos. A economia de mercado levou ao crescimento económico, mas também exacerbou as disparidades de rendimento.

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VI. Influências Externas e Dinâmicas Regionais

O legado colonial deixou infraestruturas subdesenvolvidas, capital humano limitado e desigualdades sociais existentes herdadas do domínio português, bem como barreiras linguísticas e impactos culturais.

O longo período de domínio colonial deixou um impacto duradouro nas estruturas sociais e económicas de Moçambique, moldando os desafios enfrentados após a independência. Séculos de domínio português resultaram num sistema concebido para beneficiar os colonizadores, deixando a maioria dos moçambicanos com acesso limitado à educação, saúde e oportunidades económicas. Estas condições preexistentes influenciaram a trajetória do desenvolvimento pós-independência.

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A influência dos países vizinhos manifestou-se no apoio aos movimentos de libertação e na subsequente retaliação que levou à guerra civil, bem como nas dinâmicas regionais e questões transfronteiriças.

O contexto regional desempenhou um papel crucial no eclodir e na continuação da guerra civil. O apoio da Rodésia e da África do Sul à RENAMO prolongou o conflito e exacerbou as suas devastadoras consequências sociais.

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Os actores internacionais desempenharam um papel através da assistência financeira e técnica de países doadores e organizações internacionais, da influência do Banco Mundial e do FMI através de programas de ajustamento estrutural, dos esforços de manutenção da paz das Nações Unidas (ONUMOZ), das preocupações sobre a coordenação da ajuda e os potenciais impactos negativos das actividades das ONGs, e da observação internacional das eleições e preocupações sobre a sua justiça.

Os atores externos desempenharam um papel significativo no desenvolvimento pós-independência de Moçambique, fornecendo apoio crucial, mas também exercendo influência na direção política e nos processos políticos.

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A ajuda internacional tem sido vital para a recuperação e desenvolvimento de Moçambique, particularmente após a guerra civil. No entanto, as condições associadas a esta ajuda, como os programas de ajustamento estrutural, também moldaram as políticas económicas e sociais.

O envolvimento da comunidade internacional nos processos de paz e na monitorização eleitoral reflete o seu interesse na estabilidade e no progresso democrático de Moçambique.

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VII. Desafios Sociais e Políticos Contemporâneos

A pobreza e a desigualdade persistem, com altas taxas de pobreza, que aumentaram significativamente nos últimos anos.

A desigualdade de rendimentos crescente dificulta o crescimento inclusivo. Existem disparidades regionais no desenvolvimento e no acesso a serviços. Apesar de períodos de crescimento económico, a pobreza e a desigualdade permanecem desafios importantes, com disparidades persistindo entre diferentes regiões e grupos socioeconómicos.

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Embora a transição para uma economia de mercado tenha impulsionado o crescimento, os benefícios não foram distribuídos de forma equitativa. Fatores como o acesso limitado à educação e às oportunidades de emprego, particularmente nas áreas rurais, contribuem para a pobreza persistente e o aumento da desigualdade.

A corrupção e as questões de governação são generalizadas em vários níveis de governo. Existe uma fraca capacidade institucional e desafios na implementação de políticas e quadros legais, bem como falta de transparência e responsabilização na governação.

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A corrupção e a fraca governação minam os esforços de desenvolvimento social, desviando recursos, erodindo a confiança nas instituições e dificultando a implementação eficaz de políticas.

A corrupção endémica permite o desvio de fundos públicos destinados a programas sociais e desenvolvimento de infraestruturas. As instituições fracas carecem de capacidade para monitorizar e aplicar eficazmente os regulamentos, contribuindo para um clima de impunidade.

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Os conflitos regionais e a instabilidade incluem uma insurgência islâmica em curso na província de Cabo Delgado, causando deslocamentos significativos e uma crise humanitária. Houve um ressurgimento de tensões e violência envolvendo a RENAMO em certos períodos.

Estes conflitos impactam a coesão social e o desenvolvimento nas regiões afetadas. Os conflitos regionais representam uma ameaça significativa à estabilidade social e ao desenvolvimento, levando ao deslocamento, perda de vidas e dificultando o progresso nas áreas afetadas.

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A insurgência em Cabo Delgado teve um impacto devastador na população local, perturbando meios de subsistência, destruindo infraestruturas e criando uma crise humanitária. As tensões intermitentes com a RENAMO também contribuem para um clima de incerteza e instabilidade em certas regiões.

VIII. Conclusão: Sumário das Tendências Chave

Em conclusão, o percurso da evolução social humana dos moçambicanos desde a independência tem sido intrinsecamente ligado aos sistemas políticos adotados.

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O foco inicial nas reformas socialistas, embora com objetivos nobres de equidade e unidade nacional, foi severamente prejudicado pela prolongada e devastadora guerra civil.

A transição para um sistema multipartidário em 1990 abriu um novo capítulo, prometendo maiores liberdades políticas e um sistema económico orientado para o mercado. No entanto, esta transição não eliminou os desafios sociais e económicos profundamente enraizados.

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Apesar da introdução de instituições democráticas e de um crescimento económico em certos períodos, Moçambique continua a enfrentar problemas significativos, incluindo pobreza persistente, desigualdade crescente e questões de governação, como a corrupção.

As influências externas, desde o legado colonial até ao papel dos atores internacionais e às dinâmicas regionais, moldaram continuamente a trajetória do país. Os desafios contemporâneos, nomeadamente a insurgência em Cabo Delgado e as tensões políticas pós-eleitorais, sublinham a fragilidade da coesão social e a necessidade de uma governação mais inclusiva e transparente que responda às necessidades de todos os moçambicanos.

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Tabela 1: Sistemas Políticos em Moçambique Desde a Independência

PeríodoSistema PolíticoCaracterísticas ChaveEventos Políticos Chave
1975-1990Estado Socialista de Partido ÚnicoDominância da FRELIMO, ideologia marxista-leninista, economia nacionalizadaIndependência (1975), Guerra Civil (1977-1992)
1990-PresenteDemocracia MultipartidáriaEleições multipartidárias, economia de mercado, dominância contínua da FRELIMOAdoção da Nova Constituição (1990), Fim da Guerra Civil (1992), Primeiras Eleições Multipartidárias (1994), Insurgência em Cabo Delgado (2017-Presente)

Tabela 2: Indicadores Sociais em Moçambique (Anos Selecionados)

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AnoTaxa de Alfabetização (%)Taxa de Matrícula no Ensino Primário (%) de Vida ao Nascer (Anos)Taxa de Mortalidade Infantil (por 1000 n.v.)Taxa de Pobreza (%)População Urbana (%)
1975~7%ND43.21NDND~10%
1990NDNDNDND~69%~23%
2000~39%~83%~40~100~54%~33%
2010~56%~95%~49~75~52%~30%
2020~61%~98%~56~48~62%~39%

Nota: Os dados podem variar ligeiramente entre as fontes.

Tabela 3: Principais Atores Políticos no Moçambique Pós-Independência

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Partido/OrganizaçãoPeríodo de InfluênciaLíderes ChaveIdeologia/Objetivos PrincipaisPapel na Evolução Política e Social
FRELIMO1962-PresenteEduardo Mondlane, Samora Machel, Joaquim Chissano, Armando Guebuza, Filipe Nyusi, Daniel ChapoInicialmente marxista-leninista, depois social-democrata; unidade nacional, desenvolvimento económicoLiderou a luta pela independência, estabeleceu o estado de partido único, conduziu a transição para a democracia multipartidária, tem sido o partido dominante desde 1994.
RENAMO1975-PresenteAfonso DhlakamaAnti-comunista (durante a guerra civil), atualmente partido da oposição; descentralização políticaFoi a principal força de oposição armada durante a guerra civil, tornou-se o principal partido da oposição no sistema multipartidário, embora com influência decrescente.
MDM2009-PresenteDaviz SimangoDescentralização, boa governaçãoSurgiu como uma força de oposição significativa, particularmente em áreas urbanas.
PODEMOS2023-Presente MondlaneMudança política, combate à corrupção, oportunidades económicas equitativasEmergiu como uma nova força de oposição, ganhando apoio significativo nas eleições de 2024.

Por: Agostinho Muchave

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