A província de Nampula acolheu no dia 29 de Dezembro de 2023, a “1ª Conferência Regional Norte – paz, governação descentralizada, segurança cibernética e inteligência artificial em Moçambique – região Norte”.
O evento organizado pela Organização para a Promoção da Paz e Desenvolvimento Humanitário (ORPHAD) em parceria com o PLASOC (Plataforma da Sociedade Civil Provincial de Manica, contou com a participação de individualidades das províncias de cabo Delgado, Niassa e Nampula.
Foi objectivo da conferência, descentralizar ou replicar o debate da 2ª Conferência Nacional de Alto Nível sobre Paz, Segurança e Desenvolvimento. Com a realização do evento, a ORPHAD, conclui o Ciclo de 10 Conferências Provinciais de reflexão sobre Construção da Cultura de Paz, Reconciliação, Coesão Social e Desenvolvimento em Moçambique.
Nesta conferência de Paz e Coesão Social, bastante concorrida, participaram altas personalidades da província entre Governo, Sociedade Civil, Academias, Religiosos, Lideranças Comunitárias e Agentes Económicos para: (i) Reflectir sobre os resultados e as recomendações da 2ª Conferência Nacional de Alto Nível sobre “Paz, Segurança, Reconciliação Nacional e Desenvolvimento” em Moçambique; (ii). Reflectir sobre Caminhos e Modelo LOCAIS para Construção da Paz, Segurança e Coesão Social” em Moçambique; (iii) Reflectir sobre as lições aprendidas com a 2ª Conferência Nacional de Alto Nível sobre Paz de 2023 e expectativa para uma agenda/estratégia nacional da sociedade civil sobre paz e coesão social. Igualmente houve compromisso desses actores de replicarem os principais consensos alcançados da conferência.
“Concebemos a paz como algo inacabado, como um processo que a cada dia que passa em todos devem promovê-la” – Ismael Luc Abraham.
O Presidente do Conselho de Direcção da ORPHAD defende o envolvimento de todos os actores sociais no processo de construção de uma cultura de paz e coesão social. O mesmo afirma que sem paz nada pode ser feito para o desenvolvimento do país.
“É preciso que as pessoas se apropriem da paz, tenham na mente que nada pode ser feito na ausência da paz. É preciso que as pessoas digam de uma vez por todas que ganhamos mais com a paz do que com os conflitos”, disse.
Este avança ainda que a paz e a coesão social são culturas que devem ser cultivadas diariamente, e que ninguém deve ser excluído dos processos de pacificação.
“Concebemos a paz como algo inacabado, como um processo que a cada dia que passa todos devem promovê-la ou devem lutar para ela existir. Um dos erros que nós temos constatado como organização é que a paz se renega para uns, parece ser obras de alguns, nesse caso os políticos e, depois, por outro lado, temos os beneficiários que são a população. Invertemos esta situação e dizemos que a paz deve ser promovida e cultivada por todos e todos devem se beneficiar dela.
Falando na conferência Regional, Ismael Abraham explicou que a organização organiza conferências províncias nacionalmente, entretanto, a província de Nampula acolheu um modelo diferente que envolve três províncias do Norte, Nampula, Niassa e Cabo Delgado para falar sobre a cultura de paz e coesão social, e segurança cibernética e inteligência artificial em Moçambique.
Abordando sobre conflitos e violência eleitoral e m cabo delgado, o Presidente da ORPHAD explicou que: “A nossa análise obviamente houve algumas situações não óptimas e ao nível da organização temos feito vários esforços envolvendo várias sensibilidades sociais de modo que tudo que se possa ser feito deve ser feito na legalidade, de outro lado, numa cultura de paz de modo que haja estabilidade social e política no país”.
Ismael Luc Abraham reafirmou a necessidade de adaptação de novos modelos e caminhos para a construção da cultura de paz e coesão social, onde destacou o envolvimento das comunidades no processo de pacificação.
“Precisamos adoptar cada vez mais os modelos de paz, precisamos fazer cada vez mais cada um no seu lugar. Precisamos que haja actores primários que lutam dia e noite pela paz. É preciso que a comunidade assuma como um factor importante para o desenvolvimento do país”, concluiu.
“É necessário consolidar a inclusão e distribuição equitativa das oportunidades, sobretudo da mulher, dos políticos e de todos os actores” – Diocleciano Raul
Diocleciano Raul, Coordenador do Fórum de Nacala, entende que a paz e coesão social resume-se em viver livremente e sem obstáculos que perturbem a tranquilidade dos cidadãos. O activista social afirma que um dos caminhos para a construção de cultura de paz e coesão social deve ser a tolerância política, eliminando as rivalidades existentes que minam o bem-estar dos cidadãos.
“Os conflitos políticos existentes em Nacala estão relacionados com a desigualdade e o desnível social”, disse Diocleciano.
O mesmo revelou que a juventude está a busca de oportunidade e nesta busca por alternativas para sobrevivência acontecem conflitos que ameaçam a paz e coesão social. Assim sendo, o activista social assume que é necessário haver uma distribuição equitativa de oportunidades.
“É necessário consolidar a inclusão e a distribuição equitativa das oportunidades, sobretudo da mulher, dos políticos e de todos os actores”, concluiu.
“Deve se promover cultura de diálogo entre os partidos, é um hábito importante que termos que incutir a esses actores para garantir a harmonia social e paz efectiva que tanto desejamos” – Aguinaldo Ângelo
Aguinaldo Ângelo, Coordenador do Fórum da Ilha de Moçambique, afirma que enquanto as pessoas não gozarem das liberdades como reunião, expressão entre outros, a paz e coesão social sempre estará minada no país. Como caminhos, o activista defende o respeito pelas liberdades.
O mesmo afirma ainda que os conflitos existentes estão ligados no país e na Ilha de Moçambique em específico, são por questões políticas o que no seu entender enfraquece a paz.
“A política tem criado divisão entre os cidadãos nas comunidades, isso perturba a cultura e promoção da paz. Assim também como enfraquece a aderência massiva dos jovens nos processos de construção de uma cultura de paz e coesão social”, disse.
Aguinaldo Ângelo acredita que resolvendo esses conflitos de natureza política, pode-se construir uma cultura de paz e coesão social.
“Deve-se promover uma cultura de diálogo entre os partidos, é um hábito importante que temos que incutir a esses actores para garantir a harmonia social e paz efectiva que tanto desejamos”, concluiu.
“O caminho para a construção de cultura de paz é dar a oportunidade ao diálogo a todos os actores sociais. Devemos estar todos os abertos ao diálogo” – Osvaldo Roberto
Osvaldo Roberto, Coordenador do fórum de Monapo falando na Conferência Regional Norte sobre Paz, Governação Descentralizada, Segurança Cibernética e Inteligência Artificial, afirmou que um dos caminhos para a construção da paz e coesão social é a promoção da do diálogo permanente.
“O caminho para a construção de cultura de paz é dar a oportunidade ao diálogo a todos os actores sociais. Devemos estar todos abertos ao diálogo”, disse.
Além do diálogo permanente, o mesmo afirma que se deve respeitar os direitos e liberdades dos cidadãos. O Activista Social defende ainda a inclusão de jovens e mulheres em processos de governação. Entretanto,
“Precisamos que os jovens e as mulheres sejam incluídos na governação. Deve-se permitir o diálogo e o exercício pleno das liberdades, só assim teremos uma paz efectiva para todo o município de Monapo”, concluiu.
“Enquanto vivermos uma série de conflitos, ainda que resolvamos parcialmente, nada fizemos” – Júlio Olímpio Bancos
Júlio Olimpio Bancos, Monitor do Programa Moz-Relief falando na conferência regional sobre Paz e Coesão Social, destacou a paz como, ausência de todo o tipo de perturbação social. O mesmo afirma que, enquanto houver uma coisa que perturba uma comunidade, significa que essa comunidade não está em Paz.
“Enquanto vivermos uma série de conflitos, ainda que resolvamos parcialmente, nada fizemos”, disse o activista social, sugerindo a resolução de todo o tipo de conflitos para o alcance e construção da cultura de paz e coesão social.
O mesmo afirma que “Um dos caminhos é o diálogo, a participação comunitária, incluindo todos os que vivem na comunidade”. Falando sobre a sua área de influência, destacou a ausência de paz e coesão social em zonas de reassentamento de deslocados do conflito em Cabo Delgado.
“Para Chiúre o maior problema é a coexistência pacífico entre as famílias acolhedoras e as famílias deslocadas. Estes não gozam dos mesmos direitos, porque eles querem gozar das mesmas coisas. Isso por vezes origina pequenos conflitos e que actualmente estamos resolvendo, garantindo direitos iguais através de distribuição de ajuda humanitária para todos”, concluiu.
“Os conflitos não faltam porque não há uma distribuição equitativa dos recursos que são explorados” – Maria Namarocolo.
Maria Lurdes Namarocolo, coordenadora do fórum de Montepuez, concorda que um caminho para paz e coesão social passa pela distribuição equitativa dos recursos. A activista Social explicou que no caso de Montepuez, na Província de Cabo Delgado, tem mais de 6 mineradoras e os conflitos são frequentes.
“Os conflitos não faltam porque não há uma distribuição equitativa dos recursos que são exploradores, quem se beneficia parcialmente são alguns chefes locais ou não. Deve haver distribuição equitativa para todos os jovens, mulheres, homens, pobres, ricos e não apenas aqueles que fazem parte da governação”, disse.
A activista avança ainda que a falta de oportunidades para jovens locais é uma das causas de conflito, por isso, entende que deve haver uma distribuição equitativa de oportunidades.
“Os nossos governantes locais não são dos distritos de Montepuez, quando há oportunidades de emprego nestas empresas exploradoras nas comunidades, estes líderes descartam os jovens naturais, o que começa criando conflitos na empresa e na comunidade”, explicou a mesma, concluindo que “deve haver diálogo participativo e inclusivo onde todas as camadas sociais, todos devem tomar parte desde o início dos processos do que vai acontecer”.
“Deve haver comunicação saudável e diálogo permanente entre os actores políticos” – Finock Jaquissone
Finock Jaquissone, coordenador do GEC de Jovens de Malema entende que enquanto não houver uma comunicação saudável, que não promova o ódio e intriga entre actores políticos, que muita das vezes acaba se alastrando aos membros e simpatizantes dos partidos políticos, nunca haver paz e coesão social.
“Uma vez que paz é um estado de harmonia e tranquilidade, ausência de conflitos entre nações, Malema há falta de comunicação e diálogo entre os partidos. Devem haver comunicação saudável e diálogo permanente entre os actores políticos”, disse.
O Activista Social relata que em Malema ainda há registo de conflitos que perturbam a paz e coesão social, aliados a interesses partidários.
“Desde que no município tomou posse a oposição, há muito conflito. As diferenças partidárias não são respeitadas, há falta de tolerância política e a comunicação não é boa entre as partes. Se houvesse mais diálogo entre os partidos e discutissem questões para promoção do diálogo, teríamos paz em Malema”, concluiu.
“A paz significa comunicação, diálogo, harmonia e coesão social” – Casimiro Lucas
Casimiro Lucas da Associação Comunitária Mukuapa falando na Conferência Regional Norte sobre Paz, Governação Descentralizada, Segurança Cibernética e Inteligência artificial que para a construção de manutenção da cultura de paz e coesão Social no país deve-se privilegiar o diálogo permanente e inclusivo.
“A paz significa comunicação, diálogo, harmonia e coesão social. O diálogo permanente e inclusivo é importante para a construção de uma cultura de paz e coesão social”, disse.
O mesmo afirma que se deve garantir o desenvolvimento em todos os aspectos, desde educação, saúde, meio-ambiente e económico para haver paz e coesão social nas comunidades.
“A sociedade Civil deve ser um acto principal nos processos de construção de cultura de paz e coesão social” – Feliz Singano
Feliz Singano, Presidente do Fórum Provincial de Nampula, defende a inclusão da sociedade civil nos processos de paz e coesão social. O mesmo lamenta a exclusão da sociedade em processos de negociações sobre paz no país, entendo que o processo não deve ser dominado apenas por políticos e religiosos.
“A sociedade Civil deve ser um acto principal nos processos de construção de cultura de paz e coesão social, e deve haver uma inclusão deste actor social. E nós como sociedade civil precisamos unir-nos para podermos lutar e criar e promover um ambiente e cultura de paz”, disse.
O mesmo afirma que se deve realizar palestras nas comunidades sobre assuntos de paz e coesão social. Para o caso de Nampula, o mesmo defende a necessidade de realização de actividades de divulgar as mensagens sobre a paz, principalmente em contextos eleitorais.
“Falar de paz é falar de harmonia, tranquilidade e o bem-estar, tudo isso acontece com a ausência de qualquer tipo de violência. Na província de Nampula levantamos aspectos que têm a ver com a frequente violência eleitoral”, concluiu.
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