ELEIÇÕES
Ossufo Momade sob cerco militar na sua residência oficial em Maputo
O líder da Renamo, Ossufo Momade, encontra-se cercado na sua residência oficial em Maputo por generais dissidentes. Situação gera tensão política e militar no seio do partido.

O líder da Renamo, Ossufo Momade, encontra-se alegadamente cercado na sua residência oficial em Maputo, por um grupo de generais dissidentes ligados ao partido, conforme informações veiculadas por fontes próximas aos próprios militares. O episódio, com contornos graves e inéditos desde a assinatura dos Acordos de Paz de Maputo em 2019, poderá marcar um ponto de inflexão no frágil equilíbrio interno da Renamo.
Segundo relatos colhidos junto a fontes próximas ao comando da Renamo, um grupo de generais que há semanas têm manifestado descontentamento com a liderança de Ossufo Momade, mobilizou-se para os arredores da residência do presidente do partido. Os militares estariam acampados em pontos estratégicos e mantêm vigilância sobre todos os acessos da propriedade, impedindo qualquer movimentação sem autorização prévia.
Generais reclamam falta de diálogo e exclusão interna
Segundo os mesmos relatos, o cerco não se trata somente de uma acção intimidatória, mas sim de um grito de socorro por parte de membros veteranos da Renamo, que alegam estar a ser sistematicamente excluídos dos processos internos de decisão. Entre as queixas mais recorrentes constam a má gestão dos assuntos militares no pós-desarmamento, a ausência de um plano claro de reintegração socioeconómica e a alegada “centralização autoritária” da direcção do partido.
Fontes internas ligadas ao Conselho Nacional da Renamo garantem que vários pedidos de audiência dirigidos a Ossufo Momade não obtiveram resposta, o que aprofundou o fosso entre a liderança política e a sua estrutura militar tradicional.
Momade em silêncio, partido dividido
Até ao momento, Ossufo Momade não se pronunciou oficialmente sobre os acontecimentos. A sua ausência em eventos públicos nos últimos dias apenas adensou o clima de incerteza e especulação, levando analistas a falarem de um “vazio de comando” na liderança do segundo maior partido da oposição em Moçambique.
A situação é considerada crítica por analistas políticos, que receiam uma nova divisão interna na Renamo, semelhante àquela que resultou na criação da Junta Militar liderada por Mariano Nhongo. A história parece repetir-se, com novos protagonistas e um cenário político ainda mais fragmentado.
Implicações para o processo democrático e de desarmamento
A tensão actual ocorre num contexto particularmente sensível: Moçambique encontra-se num processo delicado de reconciliação e reintegração dos ex-combatentes da Renamo, ao abrigo dos compromissos firmados entre o Governo da República e a liderança da oposição. O cerco à residência de Momade pode representar um risco directo à continuidade desse processo, fragilizando os mecanismos de paz construídos com grande custo ao longo da última década.
O Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) e outros organismos de monitoria de processos de paz já manifestaram preocupação, alertando para a necessidade de diálogo urgente e transparente entre as partes. Fontes diplomáticas em Maputo confidenciaram que estão em curso contactos informais para desanuviar a tensão e evitar uma eventual escalada militar.
Conclusão incerta num país ainda ferido pelas guerras
A Renamo parece, mais uma vez, tropeçar nas suas próprias feridas históricas. Ossufo Momade, que ascendeu à liderança do partido após a morte de Afonso Dhlakama, sempre enfrentou contestação por parte de sectores militares. No entanto, a actual conjuntura, marcada por isolamento físico e político, poderá culminar num cenário imprevisível para o futuro do partido e da oposição moçambicana.
Aguardam-se nas próximas horas desenvolvimentos que clarifiquem a posição do líder da Renamo, o grau de envolvimento das autoridades de defesa e segurança, bem como uma eventual intervenção dos mediadores internacionais envolvidos no processo de paz.
Enquanto isso, a residência de Ossufo Momade permanece cercada, símbolo vivo da crise interna de um partido que continua a debater-se com os fantasmas da sua história armada.
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