Nacional
Pesquisador João Mosca defende que a Frelimo nunca mudará

14 de Fevereiro de 2025 — Numa intervenção marcante no âmbito das análises políticas do CIPCAST, o Pesquisador João Mosca abordou a actual situação política de Moçambique, destacando o comportamento histórico da Frelimo e as razões pelas quais considera improvável que o partido mude nos próximos anos. Durante a sua intervenção, Mosca apresentou uma reflexão crítica sobre a evolução política do partido no poder e a estrutura de governação que tem mantido o domínio da Frelimo ao longo de décadas.
A análise de Mosca remonta à fundação da Frelimo, abordando a forma como os primeiros mandatos dos presidentes do partido, incluindo o actual presidente, têm seguido um padrão de estabilização política e enriquecimento pessoal. O Pesquisador destacou que, após os primeiros mandatos menos turbulentos, os presidentes acabam por garantir a sua riqueza e a consolidação dos seus interesses pessoais, o que, segundo Mosca, impede qualquer mudança estrutural significativa dentro do partido.
“Os fundadores da Frelimo acreditam que o país é propriedade do partido, e essa mentalidade está enraizada na sua essência. Por mais que possam existir discursos e mudanças cosméticas, a verdadeira mudança não ocorrerá enquanto as lideranças fundadoras estiverem no poder”, afirmou João Mosca.
O Pesquisador também alertou para o risco de uma guerra institucional, caso o partido continue a seguir essa linha, onde a oposição seria subjugada pela Frelimo e qualquer tentativa de mudança seria vista como uma ameaça ao status quo. Ele sublinhou que a cultura de obediência dentro do partido, onde a ascensão política depende da lealdade inquestionável ao sistema, tem gerado uma política de medo e repressão, reflectindo-se em práticas históricas como os campos de reeducação e desaparecimentos forçados durante o regime de Samora Machel.
Mosca ainda apontou que, para ele, qualquer esperança de mudança real no cenário político de Moçambique está atrelada à morte das actuais lideranças fundadoras da Frelimo.
“Dentro de 15 ou 20 anos, muitos dos dirigentes históricos já não estarão mais entre nós. Somente após esse período, com a saída desta geração, será possível pensar numa transição que abra espaço para novas lideranças, possivelmente mais dispostas a mudar o sistema”, afirmou o Pesquisador.
O especialista também afirmou que, enquanto o sistema actual for mantido, a verdadeira transformação política e social em Moçambique continuará distante. Para Mosca, a resistência à mudança por parte da Frelimo impede o avanço do país para um futuro mais democrático e justo para todos os moçambicanos.
Essa intervenção de João Mosca, no contexto das pesquisas e debates promovidos pelo CIPCAST, revela as complexidades da política moçambicana e o desafio de romper com uma estrutura de poder profundamente enraizada no país.