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Opinião

Principais situações potencialmente traumáticas

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As situações potencialmente traumáticas mais estudadas pela literatura são a guerra, o luto, os abusos sexuais, o diagnóstico de uma doença fatal, a violência parental, as perseguições, entre outros. Essas situações, quer de forma isolada quanto associadas, podem desencadear a Perturbação de Stresse Pós-Traumático (PSPT) e, consequentemente, comprometer a qualidade de vida não só do próprio indivíduo, como também das pessoas que fazem parte do seu circuito.

Basílio Macaringue

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basiliomacaringue@gmail.com

As principais características da PSPT são: alterações de humor, perturbações no sono, híper-vigilância, alterações na cognição (pensamento, memória, raciocínio, imaginação, criatividade…), reacções intensas quando o episódio é relembrado e sensação de ameaça persistente.

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Dos sintomas encontramos o reviver do episódio traumático sob a forma de flashbacks ou de pesadelos, insónias, estado de alerta, ideação suicida, depressão, ansiedade, evitamento de actividades ou situações que possam despertar a lembrança do momento traumático, etc.

A PSPT pode ser desenvolvida na consequência de um evento traumático que ultrapasse a capacidade de tolerância do indivíduo, podendo ser vítima na primeira pessoa ou simplesmente nas situações em que testemunha um desses acontecimentos durante um intervalo de tempo relativamente longo, acabando por desenvolver fobias, ansiedade acentuada, depressão, dificuldades para mobilizar comportamentos adaptativos em situações desafiadoras, etc.

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Apesar de que em condições normais qualquer um pode enfrentar eventos traumáticos ao longo da sua vida, determinados grupos como, por exemplo, os veteranos de guerra, as vítimas de violência prolongada ou de migração forçada, apresentam alto potencial para desenvolverem a PSPT. Na mesma margem de ideias, estudos demonstram que indivíduos que estão em contacto íntimo e prolongado com vítimas directamente afectadas também podem acabar por desenvolver sintomas semelhantes.

Ou seja, as famílias e os companheiros de indivíduos que apresentam o diagnóstico da PSPT estão peculiarmente em risco de desenvolver estes sintomas por estarem emocionalmente próximos, como é normativo numa relação conjugal. Todavia, esse tipo de perturbação recebe o nome de Stresse Traumático Secundário ou Perturbação Secundária de Stresse Traumático (PSST).

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Um estudo realizado por Foy em 1987 sobre os veteranos de guerra do Vietname verificou que estar envolvido em mortes de civis e ser exposto a diversas atrocidades representam factores de maior risco para o desenvolvimento de PSPT, existindo uma proporção directa entre o grau de exposição e a severidade dos sintomas.

Enquanto num grupo de veteranos com pouca exposição à guerra apenas 25 a 30% desenvolveram a PSPT, noutro grupo que esteve mais exposto a situações ameaçadoras (ser ferido, estar envolvido na morte de colegas e civis ou ser exposto a desumanidades) cerca de 70% desenvolveram esta perturbação e, consequentemente, as famílias e os companheiros destes veteranos igualmente desenvolveram a Perturbação Secundária de Stresse Traumático.

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Outra situação menos debatida que apresenta um grande potencial para o desenvolvimento de PSPT é a violência colectiva, a qual inclui os actos violentos que acontecem nos âmbitos macro-sociais, políticos e económicos. Nessa categoria estão os crimes cometidos por grupos “organizados”, os actos terroristas, os crimes de multidões, os processos de aniquilação de determinados povos e/ou nações, as xenofobias, etc.

Ainda mais, as crises humanitárias com impacto profundo sobre crianças e jovens podem similarmente causar a PSPT e, consequentemente, comprometer a dinâmica das relações familiares e de vizinhança, bem como criar sentimentos de isolamento, medo, raiva, tristeza e incertezas. Ainda mais, a exposição prolongada a um desastre natural ou conflito sócio-político sem mecanismos de mitigação adequados pode prejudicar a saúde física e psicológica das pessoas directa e/ou indirectamente afectadas.

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Diante do exposto, convêm sublinhar que, quando identificadas essas situações potencialmente traumáticas, é fundamental que o Estado, a Comunidade Internacional e a Sociedade Civil continuem a garantir o apoio Psico-social associado à educação moral e cívica destinados (principalmente) às crianças e mulheres (sobretudo gestantes), aos idosos e jovens, tendo como principais objectivos fortalecer as redes de apoio a nível das comunidades, a capacidade de resiliência dos indivíduos e partilhar as estratégias de enfrentamento mais eficientes.

O apoio Psico-social, quando bem desenhado, efectivo e adequado, pode melhorar os processos de resiliência e mitigar as vulnerabilidades. A terminar, urge destacar que a educação moral e cívica associada ao apoio Psico-social é um veículo especialmente relevante, na medida em que as escolas e os espaços de aprendizagem não-formal seguros são alguns dos ambientes mais benéficos para direccionar as crianças, as mulheres, os idosos e os jovens durante um período de crise ou incerteza.

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