Opinião
Qual seria o posicionamento mais apropriado a se assumir depois que uma relação amorosa termina?

A PRESENTE reflexão nasceu de uma conversa informal tida com um grupo de alunos da Escola Secundária de Chongoene, no âmbito da implementação do projecto de assistência psicológica e orientação vocacional e profissional por uma associação juvenil constituída por estudantes finalistas do curso de Licenciatura em Psicologia na Universidade Save.
Basílio Macaringue
O tema constitui simultaneamente a nossa pergunta de partida. Convém-nos destacar que a pergunta em si não é um sinal de alerta, mas o constitui a seriedade com que ela é expressa, o nível de atenção dos jovens ao se falar de assunto de género, a frequência de separações e/ou divórcios na actualidade, a prevalência do índice de suicídios por indivíduos em idade activa, entre outros factores.
Indo ao encontro da pergunta em questão (redundância propositada), cabe-nos inicialmente destacar que algumas pessoas (senão a maioria) depois que uma relação amorosa termina, decide imediatamente se inserir noutra ou simplesmente activa a que já vinha tendo na sua reserva (alguns intitulam de retaguarda segura); outras identificam novas formas de entretenimento, que na maioria das vezes estão associadas ao consumo de bebidas alcoólicas e outras drogas ilícitas; outras simplesmente perdem o sentido da vida, ficam deprimidas e abaladas; outras projectam a sua energia nos seus projectos de vida, nas suas carreiras, na sua performance e na sua aprendizagem contínua.
Os indivíduos integrados nos primeiros dois grupos, em Psicologia, estariam recorrendo a fuga ou a evitação como mecanismos de defesa ou estariam colocando as suas crises emocionais no estado de dormência (insensibilidade), através da compensação com estímulos do seu aparente agrado. Todavia, essas crises psicológicas serão armazenadas no inconsciente e em alguns momentos, sobretudo quando esses indivíduos estiverem sob efeito de drogas ou diante de um conflito tenso, vão comprometer os seus modos de pensar, sentir e agir em diferentes situações sociais. Geralmente circunstâncias de género podem servir-lhes de gatilhos emocionais, que lhes estimulam raiva, agressividade, hostilidade, sensação de vazio interno, etc.
O terceiro grupo agrega indivíduos introvertidos, que tenham sido vítimas de carência afectiva, negligência infantil, dependência emocional, ansiedade de afastamento prolongado e, principalmente, aqueles que apresentam transtorno de dependência emocional. Geralmente, quando há uma associação entre o consumo de drogas com a dificuldade de manter boas relações sociais após o término de uma relação amorosa, o indivíduo pode desenvolver transtornos mentais, comportamentos suicidas ou cometer crimes passionais.
A OMS (2017) alude que o suicídio é responsável pela morte de aproximadamente 800 mil pessoas anualmente e representa 1,4% de todas as mortes no mundo. Entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte.
Embora não exista algum acontecimento específico que possa “estimular” a prática do suicídio, existem certas condições sociais e certos estados afectivos que tornam alguns indivíduos mais propensos a cometer este acto. Factores psicológicos como ansiedade, agressividade, solidão e baixa auto-estima têm sido associados aos comportamentos suicidas e, em particular, a depressão.
De acordo com o sociólogo Émile Durkheim, a prevalência do índice de suicídio não pode ser explicada pela existência de um transtorno mental, mas sim a partir da análise dos fenómenos sociais que o circundam (factos que originam conflitos no seio social), os quais servem de gatilho emocional para a prática do suicídio.
Assim, na visão deste autor, o cometimento do suicídio é motivado por uma relação disfuncional do indivíduo com (pelo menos) um grupo social no qual ele se movimenta e age activamente (ambiente de trabalho, escolar, familiar, da igreja, amigos, etc.). Em outras palavras, para Durkheim, o indivíduo é eminentemente passivo ate ser estimulado pelo ambiente que o rodeia.
Em contraste com o sociólogo, defendemos a ideia de que o indivíduo é eminentemente activo e que as suas acções são reguladas a partir da interacção conjunta entre a sua maturação psicológica e as circunstâncias nas quais ele se encontra inserido nelas.
Nesse caso, o suicídio não é uma resposta directa ao conflito social, mas sim uma condição determinada por um conjunto de factores de ordem biológica, psicológica e sócio-cultural. No entanto, o suicídio é uma limitação na mobilização de recursos que conferem maior adaptação do individuo ao meio social.
Finalmente, no quarto grupo encontramos indivíduos de personalidade forte, autónomos e independentes. Geralmente integra-se à este grupo indivíduos que apresentam Quociente de Inteligência acima da média. Embora este grupo agregue indivíduos que possam parecer em grande vantagem em relação aos outros, vale ressaltar que quando um indivíduo bloqueia vínculos afectivos compromete também o seu desenvolvimento pleno.
De acordo coma Psicologia de desenvolvimento humano, o Homem é constituído por quatro dimensões de desenvolvimento, nomeadamente: sensório-motora (captação de estímulos ambientais e coordenação de respostas físicas e/ou hormonais adequadas), afectiva (manipulação de emoções e sentimentos), psicossocial (modos de pensar, sentir e agir em conformidade com as normas sociais em vigor) e cognitiva (processos mentais como pensamento, linguagem, memorização, imaginação, raciocínio, etc.). Para cada dimensão existe uma demanda de desafios que cada um deve ser capaz de manusear activa e positivamente.
Portanto, colocar um estado afectivo turvo no estado de dormência pode desencadear neurose de angústia, insónia, pensamentos difusos, tornar o indivíduo inflexível, bem como comprometer a auto-imagem, o auto-conceito e a auto-regulação emocional diante situações desafiadoras.
A terminar, temos a sublinhar que o posicionamento mais apropriado a se assumir depois que uma relação termina é dar-se um tempo sem pensar no ocorrido para poder ganhar calma e, desse modo, poder pensar com mais lucidez e coerência. Geralmente, quando se está nessa fase, corre-se para espalhar a notícia, o que não só denigre a imagem de quem será mal falado, como também permitirá que as pessoas ao redor conheçam o padrão de vida privada do “casal”.
Nesse sentido, é crucial saber se conter por um período mínimo de 48 horas, se puder. Se não puder se assegurar, aconselha-se a recorrer a uma pessoa idónea e respeitosa para se expor, libertar o que pode estar a lhe constituir uma perturbação. Decorrido o período de incubação da dor ou do alívio, já pode avaliar minuciosamente as principais variáveis da relação, identificar seus próprios erros para poder se auto-aperfeiçoar.
É importante ressaltar que cada relação é uma relação singular e única, visto que constitui uma juncão de “duas” pessoas com características distintas das que formam uma outra relação. Nesse contexto, deve-se evitar generalizar todos factos e igualmente deve-se conceder o benefício a dúvida e, em contraste, deve-se recorrer a dúvida metódica para evitar andar na cegueira.
Nessa última fase, o indivíduo deve digerir os bons e maus momentos vividos na relação, olhar para todos factos positivamente, não com o intuito de recuar, mas para poder fazer valer daquela experiência “amarga” para melhor projectar a relação futura, com maior cautela e sem correr o risco de transportar feridas emocionais da relação anterior para uma outra.