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Sem rede de apoio: O fim do patamar dos EUA pode lançar Boane no abismo do desamparo

Depoimentos que pintam um quadro de insegurança
Joana, 32 anos, residente de Boane: “Tenho recebido o tratamento gratuitamente há anos, e ele é o que me mantém viva. Agora, sem o apoio dos EUA, sinto um medo profundo de que, num futuro próximo, não consigamos mais ter acesso aos medicamentos. A incerteza é assustadora.” Carlos, 29 anos, também de Boane: “Para mim, o tratamento antirretroviral é uma questão de sobrevivência. Se o apoio internacional cessar, temo que o governo não tenha os recursos necessários para custear todos os medicamentos e, consequentemente, muitos de nós fiquemos sem assistência.” Maria, 40 anos, moradora da zona de Mafuiane: “Recebo o tratamento que me permite levar uma vida digna. Porém, a notícia de que o apoio dos EUA vai acabar me deixa com uma sensação de abandono. O nosso governo luta para suprir as necessidades básicas e, sem esse suporte, o risco de ficarmos desamparados é real.” José, 35 anos, que convive com o vírus há quase uma década: “A paragem do apoio dos EUA é como ser empurrado para um abismo. Já enfrentamos tantos desafios e, se não houver uma intervenção imediata, temo que muitos de nós não consigam continuar o tratamento. Precisamos de uma rede de segurança robusta, e essa rede está a desaparecer.” A assistência dos Estados Unidos, historicamente manifestada através de programas como o PEPFAR, permitiu que milhões de moçambicanos tivessem acesso a tratamentos anti-retrovirais essenciais. Contudo, com a recente decisão de reduzir ou cessar esse apoio, a sustentabilidade dos cuidados de saúde para os HIV positivos em regiões vulneráveis como Boane está em risco. Especialistas apontam que o governo moçambicano, embora comprometido, enfrenta desafios estruturais e financeiros para arcar sozinho com o custo dos tratamentos em larga escala. A falta de recursos pode levar não apenas à interrupção do fornecimento de medicamentos, mas também a uma queda drástica na qualidade dos serviços de saúde destinados a essa população. Enquanto os residentes de Boane e Mafuiane compartilham os seus medos e incertezas, torna-se urgente que tanto o governo nacional quanto a comunidade internacional reavaliem estratégias para garantir a continuidade dos cuidados. A manutenção do tratamento antirretroviral não é apenas uma questão de saúde pública, mas de dignidade e direito à vida para milhares de pessoas que, dia após dia, lutam contra o estigma e a vulnerabilidade. Esta reportagem é um alerta para que, antes que seja tarde demais, medidas de emergência sejam implementadas para evitar que um recuo no apoio internacional se transforme numa crise humanitária irreversível nas comunidades mais fragilizadas de Moçambique.Descubra mais sobre Jornal Visão Moçambique
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