O centro do debate no programa “6 às 9” foi a decisão do Governo de adquirir 100 tractores com atrelados, avaliados em 650 milhões de meticais, para utilização como meio de transporte público — medida amplamente criticada como um desperdício de recursos e um atentado à dignidade dos cidadãos.
Segundo cálculos apresentados pela TV Sucesso, este montante permitiria a aquisição de 162 autocarros convencionais (machimbombos) ou a construção de cerca de 10 quilómetros de estradas asfaltadas. A unidade de cada tractor custaria 6,5 milhões de meticais, o que supera em 2,5 milhões o custo de um machimbombo da marca Tong.
Empresas envolvidas e contexto de gestão pública
A beneficiária do contrato é a empresa MHL Auto SA, associada a José Parayanen e Sheila Marie Pelan, também ligados à Afrodrill Limitada. A ausência de licitação pública, aliada à opacidade do processo, motivou pedidos por uma auditoria independente, como exigido pela activista Fátima Mimbir, em declarações à TV Sucesso.
Reacções Políticas: Crítica à centralização e à incompetência estratégica
O edil de Quelimane, Manuel de Araújo, criticou a centralização das decisões em Maputo, sugerindo que tais aquisições deveriam ser feitas com base nas necessidades das províncias, através de consulta aos secretários de Estado e administradores locais. “Estamos a dar paracetamol à febre, sem tratar a doença”, disse, apontando a falta de descentralização como raiz do problema.
O partido Nova Democracia considerou a medida uma “infâmia política” que remete os moçambicanos à condição de “resíduos humanos”, por serem transportados em tractores tradicionalmente utilizados para agricultura ou remoção de lixo.
Suspeitas de reutilização de equipamentos do programa “Sustenta”
O analista Sérgio Matsinhe levantou a hipótese de os tractores em questão serem remanescentes do falido programa Sustenta, desviados do seu propósito original. Exigiu uma auditoria forense à empresa fornecedora e à proveniência dos equipamentos.
Argumentos em defesa: A voz da Manhiça
O edil da Manhiça, Luís Munguambe, defendeu a medida como solução imediata para zonas onde os solos inviabilizam a entrada de veículos convencionais. Citou a localidade de Calanga como exemplo, onde as condições geográficas tornam o tractor o único meio de transporte viável.
Reconhecendo que “o tractor não é ideal”, Munguambe atribuiu nota máxima à iniciativa em contextos extremos, embora não a recomendasse como política de mobilidade urbana geral.




