O bairro de Ndlavela, no município da Matola, viveu momentos de grande agitação nos últimos dias, na sequência de uma contenda familiar que está a chocar os residentes. Um tio terá ordenado a demolição parcial de uma casa e de uma dependência anexa, onde o seu sobrinho residia, numa alegada tentativa de despejo forçado. O jovem, que habita o imóvel há 21 anos, nega categoricamente as acusações de que a casa serve de abrigo para ladrões e indivíduos consumidores de substâncias ilícitas.
O jornalista Alfredo Guitimela, da TV Sucesso, deslocou-se ao local, concretamente ao quarteirão 18 do bairro de Ndlavela, para cobrir os acontecimentos. Segundo o repórter, a situação não deixou os moradores “sossegados”.
O Lado do Sobrinho: Acusações de Despejo e Incerteza
O jovem sobrinho, que se identificou, acusou o tio de tentativa de despejo, afirmando que este “terá mandatado algumas pessoas para demolir parte da casa” e a dependência onde habitualmente dormia. Esta acção surge após 21 anos de permanência do jovem na residência.
Questionado sobre as alegações do tio, o jovem explicou: “Estão a demolir as casas alegando que eu tenho que sair para dar lugar. Dizem que esta casa é a moradia de ladrões, que nela entram pessoas que fumam droga, e até que a casa está a ser vendida. Mas essas acusações não correspondem à verdade. Os meus amigos são esses aqui que estão a ver — não fumam, nunca entraram nesta casa para roubar.”
Acrescentou ainda: “Vivo nesta casa há 21 anos, desde o meu nascimento. Cresci com os meus avós antes do seu falecimento e continuei aqui.”

Não é a primeira vez que enfrenta uma tentativa de expulsão. Numa ocasião anterior, teve de sair para ir trabalhar, mas regressou posteriormente, alegando: “Parei de trabalhar, não estou a conseguir sustentar-me. Pedi para voltar à casa dos meus avós, onde estava anteriormente. A minha tia disse: ‘Volta, porque a casa está vazia’. Voltei. E hoje voltam a destruir as casas, dizendo que eu tenho que sair.”
O jovem contactou o chefe de quarteirão, que lhe comunicou que deveria sair, considerando tratar-se de “um caso de família”. No entanto, afirma que o referido chefe não apareceu no local durante a demolição. “Ele mandou uma mensagem a dizer que ia processar-me. Fui ter com outro chefe do quarteirão. Nem ele, nem o seu adjunto apareceram quando fui informar sobre o que estava a acontecer. Passaram apenas na rua e não entraram nesta casa.”
A incerteza quanto ao seu futuro é visível. Segundo o jovem, ao contactar a sua tia mais velha, esta respondeu: “Tens que sair. Para onde vais, eu não sei nem quero saber. Tens que sair.” Acrescentou que queriam colocar um inquilino na casa, justificando que a mesma pertence à mãe deles.
A Voz da Vizinhança: Apoio e Contestação às Acusações
Os moradores do bairro de Ndlavela mostraram-se solidários com o jovem e refutaram as alegações feitas pelo tio. Um amigo, residente no bairro, afirmou: “Ele é meu amigo. Aproximou-se de nós e disse que estava a ser despejado, e não entendemos os motivos, porque ele cresceu aqui. Está aqui há 21 anos. Dizem que ele fuma, bebe, rouba — mas nunca o vimos a fumar, a beber, nem a praticar actos ilícitos. É um jovem que, de manhã, vai procurar o pão.”

Outra vizinha, que cresceu com o jovem, reforçou: “Sou vizinha dele, ele é como um irmão para mim. Crescemos juntos. O que estão a dizer é tudo mentira. Ele não fuma, não bebe, não faz nada disso. Aqui nesta casa ninguém entra para fumar. É tudo mentira. Ele nunca roubou.”

Uma terceira moradora questionou o destino do jovem: “Sim, conheço-o. Crescemos juntos. Ele está aqui há 21 anos. Quando a avó ainda estava viva, era ele quem cuidava dela. Os filhos que hoje o estão a despejar nem estavam cá nessa altura. Quando a avó não andava, era ele quem fazia tudo por ela. Agora vêm despejá-lo. Para onde vai viver? Queremos saber isso. Se nos derem um sítio fixo para ele viver, vamos aceitar que seja despejado. Caso contrário, não aceitaremos.”

A comunidade local, através dos seus testemunhos, contesta as acusações imputadas ao jovem e opõe-se veementemente à tentativa de expulsão. A reportagem da TV Sucesso tentou ouvir o tio envolvido para obter a sua versão, mas até ao momento não obteve resposta.