Opinião
Transtorno de Personalidade Dependente

A PERSONALIDADE é definida como sendo um conjunto de aspectos internos e externos relativamente permanentes do carácter de uma pessoa, que influenciam o seu modo de pensar, sentir e agir em determinadas situações da vida. Sendo assim, no entanto, a formação da personalidade é um processo gradual, contínuo e único em cada sujeito.
Basílio Macaringue
Um transtorno da personalidade (TP), por sua vez, consiste num padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Ou seja, refere-se à manifestação patológica da personalidade do indivíduo. Entre os comportamentos mais comuns podemos citar: agressividade, hostilidade, furtos, rebeldia, tendência a desafiar a lei e/ou as figuras de autoridade, etc.
Nesse sentido, o funcionamento saudável da personalidade está mais ligado à autonomia, à eficácia nas competências sociais, à uma tendência a se ajustar efectiva e eficientemente ao contexto social, a um senso subjectivo de satisfação e a uma habilidade de colocar em prática suas competências, enquanto a manifestação patológica é caracterizada por déficits nesses mesmos pontos ou por características que activamente prejudicam essas capacidades no indivíduo
Os TP estão reunidos em três grupos, a saber: grupo A, que inclui os transtornos da personalidade paranóide, esquizóide e esquizotípica; grupo B, no qual encontramos os transtornos da personalidade anti-social, borderline, histriónica e narcisista. Indivíduos com esses transtornos costumam parecem dramáticos, emotivos ou erráticos; e finalmente temos o grupo C, que agrega os transtornos da personalidade evitativa, dependente e obsessivo-compulsiva. Indivíduos com esses transtornos com frequência parecem ansiosos ou medrosos.
No presente texto vamos reflectir em torno do Transtorno de Personalidade Dependente (TPD). De acordo com o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-V), o TPD consiste numa necessidade difusa e excessiva de ser cuidado e estimado, o que leva a comportamento de submissão e apego. De acordo com a literatura, o TPD é mais comum em indivíduos do sexo feminino.
Os critérios diagnósticos do TPD incluem, nomeadamente: dificuldades em tomar decisões quotidianas sem conselhos e confirmação dos outros; dificuldades para assumir responsabilidade pelas principais áreas de vida pessoal, académica e profissional; dificuldades em manifestar desacordo com outros por medo de perder apoio ou aprovação; dificuldade em iniciar projectos por conta própria; tendência a ir ao extremo para obter carinho e apoio de outros, a ponto de voluntariar-se para fazer coisas desagradáveis; necessidade de busca com urgência de outro relacionamento como fonte de cuidado e amparo após o término de um relacionamento íntimo.
Indivíduo com TPD com frequência é caracterizado por pessimismo e auto-questionamentos, tende a sub-estimar suas capacidades e seus aspectos positivos e pode constantemente referir a si mesmo como “estúpido”.
Encara a crítica e a desaprovação dos outros como sinal de falta de valor e, desta feita, perde a fé em si mesmo. Pode buscar super-protecção e dominação por parte dos outros. O funcionamento profissional do individuo pode ser prejudicado diante da necessidade de iniciativas independentes. Pode evitar cargos de responsabilidade e apresentar ansiedade acentuada diante situações que lhe exigem tomar de decisões complexas. As relações sociais tendem a ser limitadas àquelas pessoas de quem o indivíduo é dependente.
Gregamente “ignora” suas emoções e passa a acreditar que a sua felicidade só pode ser encontrada no outro. Com isso, a pessoa tem dificuldades em criar vínculos com outras pessoas, depositando a sua satisfação apenas na pessoa de que ela é emocionalmente dependente. Tende a atribuir outros significados para suas emoções e eventos sociais, e apresenta grandes dificuldades para criar e manter vínculos com outros indivíduos.
Uma das técnicas mais recomendadas para o tratamento do TPD é a Terapia Cognitiva Comportamental. Ao recorrer a esta técnica, durante a intervenção, o psicólogo busca unir a história da vida do paciente com os seus problemas actuais de uma maneira diferenciada, o que permite desenvolver estratégias específicas, para que ele possa aprender a lidar positivamente com as adversidades.
Conforme refere Beck (2013), ao se aplicar esta técnica, o psicólogo foca-se na compreensão de cada paciente a partir de suas crenças específicas e padrões comportamentais, e busca produzir uma mudança nos padrões de pensamento e sistema de crenças disfuncionais presentes no indivíduo, para produzir uma mudança emocional e comportamental contínua.