A cidade da Matola acordou hoje em estado de pânico após o registo de mais um violento tiroteio, que resultou na morte de, pelo menos, quatro homens, na Matola A, posto administrativo da Matola Sede. O incidente ocorreu entre as 8h00 e as 9h00 desta sexta-feira, lançando um clima de tensão e medo entre os moradores.
Segundo informações preliminares e testemunhos recolhidos no local sob anonimato, relatados pela TV Miramar durante a transmissão do programa Belas Manhãs, tudo indica que houve uma perseguição entre a polícia e os supostos homens alvejados. Uma viatura, aparentemente nova ou seminova, foi encontrada crivada de balas no local do crime, com o condutor e mais duas pessoas caídas nas imediações do veículo. Há ainda relatos de um quarto corpo, também do sexo masculino, encontrado numa rua adjacente, bem como a possibilidade de uma mulher ter sido atingida por uma bala perdida noutra artéria próxima.
O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) e a Polícia da República de Moçambique (PRM) estão no terreno a realizar perícias e os procedimentos de remoção dos corpos. A área encontra-se isolada, mas o trabalho das autoridades tem sido dificultado pela presença de curiosos e pelas tentativas de alguns agentes de impedir a aproximação da imprensa, o que gerou momentos de tensão.
Citado pela TV Miramar, um morador, identificado apenas como Júlio, descreveu o momento de pânico: “Eu estava no meu local de trabalho… de repente, começaram os tiroteios lá fora. Quando saí, encontramos estes homens mortos aqui fora… é uma situação muito, muito grave. É muito assustador o que aconteceu.” Já Sandra Paula, outra moradora, expressou a sua consternação: “Lamento… sei que não posso dizer ao certo o que está a acontecer. Apenas estou triste e com medo ao mesmo tempo. Ver pessoas mortas sem saber se eram ladrões ou o quê…” O pânico foi tal que levou muitos moradores a esconderem-se ao som dos disparos.
Este trágico episódio ocorre menos de três dias após outro violento assassinato, registado na passada terça-feira (2 de Julho), na zona da Manduca, Infulene, onde dois agentes das forças de defesa e segurança – um do SERNIC e outro da PRM – foram mortos com cerca de 54 tiros. Com isso, contabilizam-se, pelo menos, seis mortes violentas em Moçambique num curto espaço de tempo.
Até ao momento, as autoridades ainda não se pronunciaram oficialmente sobre a identidade das vítimas deste novo incidente na Matola, nem sobre os motivos do ataque. O porta-voz da PRM a nível do Comando Provincial de Maputo, Cláudio Ungulani, encontra-se no local, mas, segundo colegas, é ainda “prematuro” prestar declarações à imprensa.
O episódio levanta sérias preocupações na sociedade moçambicana sobre a crescente onda de assassinatos em plena via pública e à luz do dia, com um número elevado de disparos. A cidade da Matola, em particular, “vai vivendo estes cenários, vai sentindo o cheiro da pólvora e o som das armas em plena luz do dia”. Há coincidências notáveis nos modos operandi e nos horários dos crimes, embora as autoridades, em casos anteriores, tenham negado qualquer ligação entre os incidentes.
O ambiente no local permanece tenso, com a população e os órgãos de comunicação social a aguardarem esclarecimentos oficiais por parte das entidades competentes sobre o que realmente está a acontecer no país. A imprensa, por sua vez, apela à compreensão das autoridades para que possam exercer o seu papel de informar, recordando que se trata de crimes públicos que devem ser reportados na íntegra, com o devido respeito pela ética jornalística.