Búfalos Unidos aposta na sustentabilidade e crescimento económico

Entrevistador: Senhor Nelson Mavimbe, muito obrigado por nos receber. Vamos começar com uma questão essencial. A cooperativa Búfalos Unidos possui uma experiência única no contexto moçambicano.

Como é que essa experiência pode ser partilhada com outras cooperativas ou mesmo com grupos de pessoas que desejam criar novas cooperativas, tendo em vista que isso pode ser uma importante fonte de rendimento?

Nelson Mavimbe: Agradeço a oportunidade. Importa referir a Cooperativa Búfalos Unidos é de natureza agro-pecuária, com sua sede no Distrito de Chokwé no povoado de Wachicoluana, foi constituída a sensivelmente um ano e meio, a sua estrutura de governação é composto por seguintes órgãos sociais; Assembleia Geral, Mesa de Assembleia Geral do qual sou o presidente da Mesa, Conselho de Direcção e Conselho Fiscal, mas vale dizer que a nossa experiência têm mais de 10 anos actuar como associação, por se tratar duma cooperativa que deriva da mesma associação cujo objecto é quase similar, a cooperativa Búfalo tem como objecto social apoiar seus membros e associações na procura de soluções para realização de seus programas agrários desde a produção agrícola, pecuária, agro processamento, aquacultura, comercialização, importação, exportação de insumos, assistência técnica e financeira micro finanças e crédito, turismo, formação nas matérias sociais, ambientais empoderamento da mulher e jovens, desempenhando o papel de interface entre os membros, produtores, associações, e diversas entidades de serviços privados e instituições publicas, neste momento a cooperativa conta com mais de cinquenta membros, dentre mulheres, homens e jovens, em Moçambique muito é feito para o fomento de cooperativismo, mas há ainda muito que se fazer, por forma que um dia tenhamos esta cultura de cooperativismo a contribuir de forma muito significativo na nossa economia nacional.

De uma forma geral, o cooperativismo nasce como uma extensão da associação. As associações, no seu núcleo, são entidades que se organizam sem fins económicos enquanto as cooperativas têm uma finalidade económica no seu objecto, portanto, as actividades desenvolvidas dentro ou no seio duma associação não são de natureza lucrativa o que se difere duma cooperativa, que tem um papel de gerar inúmeros benefícios económicos e trazer soluções de sustentabilidade das actividades praticada pelos seus membros sócios nele inscrito.

A cooperativa Búfalos Unidos tem igualmente uma extensão de terra para produção agrícola com cerca 800 hectares, no baixo Limpopo ao longo de regadio, para produção de cana-de-açúcar, milho, arroz, tomate, trigo, soja, milho, tomate, couve, cebola, alface, pepino, repolho, pimento, cenouras, feijão e ervilhas,

A responsabilidade dos membros sócios da cooperativa Búfalos Unidos é de realizar o seu capital social segundo os plasmado nos estatutos, garantir o funcionamento eficaz e sustentável da cooperativa, promovendo a participação activa, a cooperação mutua e o sucesso colectivo e o espírito de inclusão social, mas também devem participar no processo de tomada de decisão, contribuindo com suas ideias importante para o bom funcionamento da cooperativa.

Na cooperativa, os excedentes são distribuídos proporcionalmente a participação de cada membro nas actividades económicas da cooperativa, como a quantidade de produtos entregues, serviços utilizados ou trabalho realizado, ou seja, quem mais contribuí com funcionamento as operações da cooperativa, geralmente recebe uma parcela maior dos lucros, por forma a incentivar o envolvimento e a dedicação dos membros, mas, contudo, antes de distribuir os lucros, é preciso observar uma parte desse excedente para um fundo que serve para assegurar a sustentabilidade da cooperativa a longo prazo, pois é necessária uma base financeira sólida e segura.

Por isso, insisto que existe uma necessidade de fazermos mais como pais para difundir melhor a mensagem sobre a cultura de cooperativismo em Moçambique, de forma a garantir que todos entendam o seu verdadeiro conceito, funcionamento e as suas vantagens.

Entrevistador: Isso é realmente muito importante, especialmente para quem deseja criar ou participar de uma cooperativa. Além das cotas, existem outras formas de gerar renda na cooperativa, como, por exemplo, a criação de instalações que possam ser alugadas para eventos?

Nelson Mavimbe: De facto, em condições ideais, a cooperativa pode diversificar as suas fontes de rendimento. No nosso caso, trabalhamos para a cooperativa funcionar como uma entidade que deve agregar valores aos seus membros. Isso significa que podemos explorar diversas actividades, com a reserva dos fundos de forma sustentável, pode um dia permitir sim que a cooperativa realize vários investimentos em diversas áreas como imobiliária, transporte e outros desde que os tais observam o estatuído nos estatutos da cooperativa, também podemos com a sede infra-estruturado conceder o aluguer de espaços para conferências, workshops ou outros eventos. Este tipo de iniciativa pode gerar receitas adicionais e fortalecer a base financeira da cooperativa, permitindo que esta se mantenha estável e capaz de enfrentar as suas despesas operacionais. Além disso, essa diversificação de actividades também promove uma maior visibilidade e interacção com a comunidade, o que é benéfico para todos os envolvidos.

Entrevistador: Falando agora um pouco sobre o percurso da cooperativa Búfalos Unido quais foram os maiores desafios enfrentados até agora?

Nelson Mavimbe: Durante este percurso, enfrentamos muitos desafios, especialmente relacionados com a organização e formalização, a maioria dos nossos membros são pequenos agricultores e trabalhadores rurais que não detinham uma experiência previa de gestão, preferimos apostar mais em programas de formação, palestra e capacitação desde o início para garantir que todos os membros entendam o funcionamento da cooperativa e as suas responsabilidades.

O acesso ao financiamento para apostar de forma mais alargadas nas nossas actividades agrícola e pecuária, bem com os projectos de pisciculturas, tem sido um calcanhar de Aquiles, por exemplo, temos um projecto que compreende as seguintes componentes; Agricultura, Pecuária e Piscicultura, que neste momento já reuniu todos os requisitos para se tornar elegível a uma ONG, que por questões éticos não posso revelar o nome dessa organização, fizemos uma apresentação, foi analisado e inclusive, foram solicitados todos os elementos necessários, mas ainda não tivemos o feedback, já se vão cerca de seis meses.

Capital inicial insuficiente, para investir equipamentos, insumos, e serviços, ouve um esforço bastante grande por parte dos sócios em prover contribuições que possibilitaram no funcionamento da cooperativa com vista ao alcance dos seus objectivos.

No entanto, esses desafios tornaram-se verdadeiras lições. Hoje, podemos olhar para essas dificuldades como um aprendizado. Aprendemos que a disciplina financeira e o comprometimento dos membros são fundamentais para o sucesso de qualquer cooperativa. Essas lições são valiosas e podem ser partilhadas com outras cooperativas que começam ou que enfrentam problemas semelhantes.

Entrevistador: Através dessa experiência, acredita que a cooperativa Búfalos Unidos pode ajudar outras organizações a gerir melhor as suas finanças e operações?

Nelson Mavimbe: Absolutamente. A nossa experiência pode ser uma fonte de inspiração e um guia prático para outras cooperativas que desejam melhorar a sua gestão e rentabilizar as suas actividades. Muitas organizações não têm noção dos desafios que vão enfrentar até estarem efectivamente a funcionar, por isso, partilhar o nosso testemunho é uma forma de ajudá-las a evitar os mesmos erros. Acreditamos que, ao passar adiante o nosso conhecimento, estamos a contribuir para o fortalecimento do cooperativismo em Moçambique, o que é algo muito positivo.

Entrevistador: Muito obrigado, senhor Nelson, pelas suas palavras e pelo esclarecimento sobre o funcionamento da cooperativa Búfalos Unidos. Com certeza a sua experiência será de grande valor para outras cooperativas.

Nelson Mavimbe: Eu que agradeço pela oportunidade de partilhar a nossa experiência. Espero que esta entrevista contribua para uma maior disseminação da importância do cooperativismo e para o crescimento das cooperativas em Moçambique, mas apelar igualmente aos financiadores dos projectos de natureza agro-pecuária na necessidade de tomar com mais seriedade nos financiamentos desses projectos em Moçambique se realmente as suas agendas são orientados mesmos para esse tipo de financiamento.