Um caso considerado “inacreditável” de fraude e homicídio está a chocar o país, envolvendo o empresário Edilson Paulo Peter, de 41 anos, preso há cinco meses na Serra Catarinense, Brasil.
Ele é acusado de forjar a própria morte, encenar um falso vídeo de tortura, amputar o próprio dedo e, de forma mais grave, assassinar um homem inocente que não conhecia, para simular o seu falecimento, escapar a dívidas e receber seguros de vida.
O alegado “megaprojecto” de areias pesadas em Inhambane, Moçambique, não possui qualquer relação com este caso.
O plano audacioso: Dívidas, seguros e um corpo substituído
Segundo as investigações, Edilson, proprietário de uma empresa de energia solar, planeou a fraude para se livrar de pesadas dívidas trabalhistas, avaliadas em cerca de 700 mil reais, e para receber o valor de dois seguros de vida, no montante de 300 mil reais, cujos beneficiários seriam pessoas de sua confiança, incluindo a companheira, Jonice Cavikioni. O lucro total estimado seria de três milhões de reais.
O plano foi executado a 12 de Fevereiro de 2025. Câmaras de vigilância registaram Edilson a abastecer um galão com gasolina e, de seguida, a trocar de viatura com outro indivíduo. Para a polícia, tratava-se de Adilson José Barbosa, de 39 anos, identificado como cúmplice. A camioneta de Edilson foi vista com dois ocupantes, percorrendo 22 quilómetros até Curitibanos e, posteriormente, até Santa Cecília.
A escolha da vítima: Um homem em situação de rua
A polícia aponta que, em Santa Cecília, Adilson terá abordado pessoas em situação de rua, oferecendo alimentos como isco. Edilson nega contacto com qualquer morador de rua, mas há testemunhos e provas que o colocam no local.
A vítima escolhida foi Vanderlei West Felder, de 49 anos, descrito pela irmã como “um homem sofrido”, com problemas de alcoolismo, que muitas vezes dormia na rua. O corpo foi encontrado carbonizado e irreconhecível dentro da camioneta de Edilson, que havia sido incendiada, três dias após o crime. Inicialmente, a polícia acreditou tratar-se de Edilson.
Tentativas de despistar a investigação
As incoerências começaram a desmontar o plano. Exames à arcada dentária confirmaram que o corpo não era de Edilson, mas sim de Vanderlei. Para confundir a família da vítima, Edilson criou perfis falsos em redes sociais e chegou a interagir com familiares.
Um vídeo encenado mostrava Edilson a ser agredido e torturado, com voz distorcida a alegar dívidas trabalhistas. No mesmo vídeo, um dos seus dedos aparece amputado. Edilson alega que Jonice lhe aplicou anestesia e o convenceu a proceder à amputação, mas a polícia afirma que a lesão foi “planeada” e não um ato impulsivo. A voz masculina no vídeo, segundo as investigações, seria a de Jonice, manipulada com recurso a um aparelho modificador de voz.
A captura e as contradições
Edilson foi apanhado devido aos próprios erros. Procurou tratamento hospitalar para uma infecção no dedo amputado em Itajaí, apresentando-se como “Edson”. Funcionários reconheceram-no e informaram as autoridades.
A polícia localizou o esconderijo de Edilson em Navegantes, na casa de Adilson, e prendeu ambos. Adilson confessou ter recebido 15 mil reais para colaborar, mas negou envolvimento directo no homicídio.
Em declarações, Edilson admitiu ter ajudado a incinerar o corpo de Vanderlei e forjar a sua própria morte, mas acusou Jonice e o irmão dela, Gilmar Cavikioni, de planearem o homicídio. Segundo ele, Jonice alegava que “era o único jeito de resolver os problemas trabalhistas e do divórcio”. A polícia, no entanto, considera Jonice como vítima de manipulação e perseguição, relatando inclusive vazamento de fotos íntimas por perfis falsos atribuídos a Edilson.
Gilmar nega qualquer envolvimento, afirmando que “a consciência está limpa” e acusa Edilson de “homem perigoso” e de lhe dever 50 mil reais.
Revolta da família e futuro judicial
Edilson Paulo Peter foi formalmente acusado de homicídio qualificado, destruição e ocultação de cadáver, além de fraude processual. Caso condenado, poderá enfrentar até 40 anos de prisão, pena máxima prevista no Código Penal brasileiro.
A família de Vanderlei manifesta profunda dor e indignação. “O meu irmão foi apanhado porque estava com fome. Ele caiu na armadilha”, disse a irmã, acrescentando que “o corpo foi reduzido a carvão”.
Em entrevistas, Edilson mostrou algum arrependimento, pedindo desculpas à família, mas continua a negar ter matado Vanderlei. “As provas vão demonstrar que eu não matei. Deixei-me levar e fugiu do controlo”, declarou.
O caso aguarda julgamento, que poderá trazer justiça e dignidade à memória de Vanderlei, um homem que, em vida, muitas vezes foi tratado como “cidadão invisível”.