As eleições ocorridas recentemente no Malawi resultaram numa rápida alternância de poder. O processo eleitoral do país vizinho, que decorreu numa terça-feira, viu a contagem de votos e a declaração de resultados na mesma semana, culminando com o regresso do anterior Chefe de Estado, Arthur Peter Mutharika, do partido DPP. O presidente cessante, Lázaro Chakwera, foi filmado a deixar o palácio na sexta-feira com a sua esposa e poucos pertences, em demonstração de normalidade democrática.
Esta celeridade no Malawi, um país com cerca de 7 milhões de eleitores, que se aproxima da população moçambicana, contrasta fortemente com o processo eleitoral em Moçambique. Salomão Moyana sublinha a diferença regional, notando que na Zâmbia, Namíbia e Botsuana a alternância de poder ocorre periodicamente e de forma pacífica.
A situação moçambicana é criticada por arrastar o processo eleitoral por 45 dias após a votação, um período destinado a “tentar organizar o resultado” e evitar “pôr em causa a unidade nacional”. Segundo Moyana, isto configura um tabu, pois Moçambique é o “único país da região onde custa dizer o resultado eleitoral”.
O comentador critica a forma como a estabilidade nacional é interpretada, estando ligada à não contestação do partido no poder. Ele ironiza a paralisação total para a votação de um chefe de Estado ou provincial em Moçambique, contrastando com a atitude do presidente Chakwera, que era a 15.ª pessoa na fila para votar no Malawi.
Moyana expressa a sua vergonha face ao atraso moçambicano em relação aos países vizinhos: “nós estamos a ser um país atrasado no meio de países que estão a evoluir, estão a caminhar para o progresso”. Ele sugere que, em vez de investir em “comissões técnicas para diálogo inclusivo”, o país deveria simplesmente copiar os métodos de condução de eleições.
Salomão Moyana conclui a sua análise sobre o contraste regional, reflectindo sobre a percepção de Moçambique no contexto da SADC: “eu acho que, se nós não ficamos envergonhados com aquilo que estamos a assistir, na nossa qualidade de moçambicanos, então já perdemos a noção das coisas, a noção do mundo, a noção do que está a passar à nossa volta”. Ele classifica Moçambique como “a ilha da intransparência, a ilha do atraso a nível da região”.