A introdução de moedas digitais pelos bancos centrais (Central Bank Digital Currencies — CBDCs) é uma revolução silenciosa no sistema monetário global. Países como a China, Nigéria, Bahamas e, mais recentemente, o Brasil já caminham nesse sentido. Para Moçambique, a emissão de uma moeda digital nacional não é apenas uma inovação tecnológica — é uma estratégia de soberania, inclusão financeira e estabilidade económica.
O Que É uma Moeda Digital de Banco Central (CBDC)?
É a versão digital da moeda fiduciária emitida por um banco central — no caso de Moçambique, seria o Metical Digital, emitido e regulado pelo Banco de Moçambique. Diferente das criptomoedas como Bitcoin, uma CBDC é centralizada, estável e regulada.
Vantagens das Moedas Digitais
1. Inclusão Financeira
- Moçambique tem uma taxa de bancarização baixa (menos de 25% da população adulta com conta bancária formal).
- Com uma moeda digital acessível via telemóveis comuns, seria possível integrar milhões de moçambicanos ao sistema financeiro sem a necessidade de abrir contas em bancos físicos.
- Facilita pagamentos e transferências mesmo em zonas rurais sem agências bancárias.
2. Redução da Corrupção e Transparência
- Transacções digitais são rastreáveis, o que diminui a margem para desvios de fundos públicos, lavagem de dinheiro e corrupção administrativa.
- Permite auditorias em tempo real em programas sociais, salários da função pública, subsídios agrícolas e transferências para projectos comunitários.
3. Custo Reduzido de Impressão e Manuseio de Dinheiro
- Produzir, transportar e guardar dinheiro físico tem um custo elevado. Uma moeda digital reduz esses custos drasticamente.
- Menor risco de falsificações e deterioração das notas físicas.
4. Estímulo à Economia Digital
- Facilita o crescimento do comércio electrónico, fintechs, apps de pagamento e soluções digitais locais.
- Incentiva o surgimento de startups financeiras, promovendo emprego jovem e inovação nacional.
5. Resposta a Crises
- Em caso de pandemias, ciclones ou situações de calamidade, uma moeda digital permite transferências rápidas e seguras de auxílio humanitário e subsídios do Estado.
6. Integração Regional
- Com uma moeda digital nacional interoperável, Moçambique pode se alinhar ao movimento de unificação monetária regional da SADC, facilitando trocas com países como África do Sul, Tanzânia e Malawi.
- Reduz a dependência do dólar americano para transacções internacionais.
Consequências de Não Aderir à Moeda Digital
- Moçambique pode ficar excluído de um novo sistema financeiro global.
- A dependência de moedas estrangeiras (como o dólar ou o rand) tende a crescer.
- O país corre o risco de ver o seu sistema monetário colonizado por moedas digitais estrangeiras ou privadas, como a Diem da Meta (ex-Facebook), ou o Yuan Digital da China, caso essas moedas ganhem predominância em África.
Por Que Moçambique Precisa de Uma Moeda Digital Agora
- Para reforçar a soberania monetária num contexto geopolítico competitivo.
- Para combater a informalidade — mais de 80% das transacções em Moçambique ocorrem fora do sistema formal.
- Para modernizar o Banco de Moçambique, tornando-o mais ágil, digital e adaptado ao século XXI.
- Para preparar o país para o futuro da economia digital, onde dados, algoritmos e inteligência artificial serão centrais na gestão económica.
O Que Moçambique Deve Fazer Para Implementar Uma Moeda Digital
- Estudar os casos da Nigéria (eNaira) e Bahamas (Sand Dollar).
- Criar pilotos em zonas urbanas e rurais, com apoio de fintechs locais.
- Garantir infraestrutura digital, incluindo conectividade à internet e educação financeira digital.
- Envolver a sociedade civil, universidades, bancos comerciais e empresas de telecomunicações.
- Assegurar legislação clara sobre privacidade, protecção de dados e combate ao cibercrime.
Moçambique precisa, sim, de uma moeda digital própria, não como modismo tecnológico, mas como resposta estratégica às suas necessidades históricas de inclusão, transparência e modernização. O “Metical Digital” pode ser um passo decisivo para consolidar a independência económica no século XXI e garantir que o país não fique para trás na nova ordem monetária global.