Mais de 2.000 alfabetizadores da província de Nampula estão a reclamar o pagamento de dois anos de subsídios atrasados, que totalizam cerca de 56 milhões de meticais.
Estes homens e mulheres, que se dedicam a ensinar cidadãos que não tiveram a oportunidade de frequentar a escola primária na idade normal, afirmam que a última vez que receberam algum valor foi na metade ou na primeira quinzena de 2023. Desde então, segundo relataram, “não houve mais pagamentos, nem qualquer comunicação oficial sobre a situação”.
Apesar das dificuldades financeiras, os alfabetizadores continuam a trabalhar. “Estamos de barriga vazia, mas firmes, porque acreditamos que a educação transforma vidas”, disse um dos alfabetizadores, em condição de anonimato, à nossa reportagem.
Governo reconhece falhas

O Director Provincial da Educação e Cultura em Nampula, William Tuzine, reconheceu a existência da dívida e explicou que o problema resulta de falhas nas transferências financeiras.
“A situação deve-se à falta de fundos que deveriam ter sido canalizados para a Direcção Provincial da Educação e para os serviços distritais de educação, juventude e tecnologia”, esclareceu.
Contudo, Tuzine assegurou que os pagamentos serão retomados ainda este ano. “Até Setembro próximo, os valores começarão a ser depositados directamente nas contas dos alfabetizadores, incluindo tanto os subsídios deste ano como a dívida dos anos transactos, que está orçamentada em cerca de 56 milhões de meticais”, garantiu.
Coordenadora promete levar caso ao Conselho Nacional

A nova coordenadora do programa de alfabetização em Nampula, Nazira Abdullah, também manifestou preocupação. “Este é um problema sério e precisa de soluções estruturais. Vou levar o assunto ao Conselho Nacional, em Lichinga, para que se encontrem respostas mais duradouras”, afirmou.
Segundo Abdullah, o programa, liderado pela Primeira Dama Isaura “mamã Gueta” Chapo, enfrenta ainda outros desafios, como a falta de manuais há mais de cinco anos.
Entre sacrifício e esperança
Apesar da incerteza e da ausência de remuneração, os alfabetizadores de Nampula mantêm-se unidos e empenhados. “Continuamos porque sabemos que o nosso povo precisa aprender. A educação é o maior legado que podemos deixar”, disse uma alfabetizadora com mais de oito anos de experiência no programa.
Com esforço, resiliência e esperança, os educadores populares mantêm viva a chama da alfabetização em Moçambique, mesmo diante da dura realidade de dois anos sem subsídios.