O Presidente chinês Xi Jinping reúne-se com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Busan, Coreia do Sul, a 30 de Outubro de 2025. (Xinhua/Huang Jingwen)
BUSAN, Coreia do Sul, 30 de Outubro (Xinhua) — Sob o olhar atento do mundo e diante das câmaras fotográficas, o Presidente chinês Xi Jinping e o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, apertaram as mãos nesta quinta-feira, numa reunião muito aguardada — a primeira desde que Trump voltou a ser empossado como Presidente dos Estados Unidos, no início deste ano.
Leia mais: Xi e Trump reúnem-se em Busan para estabilizar relações e restaurar a confiança global NewMais tarde, ao terminar o encontro de 100 minutos na segunda maior cidade da Coreia do Sul, Xi e Trump caminharam lado a lado em direcção à saída do local. Despediram-se com um aperto de mãos.
Os dois líderes reuniram-se num momento de grandes desafios económicos globais e de crescente protecção comercial. Muitos observadores internacionais consideraram este encontro de alto risco uma oportunidade crucial para estabilizar o que é descrito como a relação bilateral mais importante do mundo e restaurar a confiança na economia global.
TRAÇAR O RUMO DAS RELAÇÕES
Desde que Trump assumiu o cargo em Janeiro, os dois chefes de Estado mantiveram comunicação estreita por meio de telefonemas e cartas. Conforme destacou Xi durante o encontro, sob a orientação conjunta de ambos, as relações China–EUA mantiveram-se estáveis no geral.
Perante “ventos, ondas e desafios”, Xi afirmou que os dois líderes devem manter o rumo certo, navegar pelo cenário complexo e assegurar o avanço constante do grande navio das relações sino-americanas.
Trump partilhou o mesmo espírito de cooperação, declarando que as relações entre os EUA e a China sempre foram fortes e continuarão a melhorar, expressando esperança num futuro comum mais brilhante.
Não foi a primeira vez que Xi usou a metáfora do “grande navio das relações China–EUA”, sublinhando a importância de recalibrar a direcção dessas relações.
Numa conversa telefónica em Junho, após uma reunião de alto nível sobre economia e comércio em Genebra, que abriu uma série de negociações bilaterais subsequentes, Xi salientou que era “particularmente importante” evitar distúrbios e interferências.
As duas partes, disse Xi, devem tirar proveito dos mecanismos de consulta económica e comercial já existentes e buscar resultados de benefício mútuo, com base na igualdade e no respeito mútuo.
Segundo Gu Qingyang, professor associado da Escola de Políticas Públicas Lee Kuan Yew, da Universidade Nacional de Singapura, as interacções entre China e EUA devem reflectir as características de uma nova era.
“Não desejamos ver China e Estados Unidos divididos, desacoplados ou em confronto, pois isso seria prejudicial para ambos. As duas nações já são líderes globais, e nenhuma pode ignorar a outra”, disse Gu.
Antes do encontro de Busan, as equipes económicas e comerciais dos dois países reuniram-se em Kuala Lumpur, Malásia, e alcançaram um consenso básico sobre preocupações mútuas, criando condições favoráveis para a reunião de quinta-feira.
Xi instou as duas partes a acelerarem a definição e implementação dos próximos passos, garantindo que os entendimentos comuns sejam cumpridos na prática, de modo a reforçar a confiança bilateral e global com resultados concretos.
“As equipas devem continuar as negociações num espírito de igualdade, respeito e benefício mútuo, reduzindo a lista de problemas e ampliando a lista de cooperações”, disse Xi.
Para Maya Majueran, directora-fundadora da Belt and Road Initiative Sri Lanka, o encontro enviou uma mensagem de segurança ao mundo de que as duas maiores economias pretendem gerir a relação de forma responsável, evitando o confronto.
Tom Watkins, ex-assessor do Michigan-China Innovation Center, acrescentou que “respeito mútuo” é a chave para o futuro das relações EUA–China.
“Cada lado deve compreender que um erro de cálculo teria consequências devastadoras. Apesar dos altos e baixos nas últimas décadas, os dois países têm sabido avançar com sensatez.”
“Todas as grandes questões globais cruzam-se na esquina de Pequim e Washington. E a forma como os nossos líderes as resolverem moldará o futuro do mundo”, concluiu Watkins.
IMPACTO MAIS AMPLO NA ÁSIA-PACÍFICO E ALÉM
O mundo enfrenta crescentes incertezas e tendências proteccionistas, e a região Ásia–Pacífico não é excepção. As barreiras comerciais aumentam, as rivalidades geopolíticas aprofundam-se, e o sistema multilateral de comércio encontra-se sob forte pressão.
Neste contexto, o apelo de Xi ao diálogo em vez do confronto ecoou para além da sala de reuniões em Busan.
Xi observou que as relações económicas e comerciais entre China e EUA têm passado por altos e baixos, mas sublinhou que o vínculo comercial deve continuar a ser a âncora e a força motriz dessas relações — e não um obstáculo.
“As duas partes devem pensar em grande e reconhecer os benefícios de longo prazo da cooperação, evitando cair num ciclo vicioso de retaliações mútuas”, disse Xi.
O Ministério do Comércio da China divulgou na quinta-feira os resultados alcançados nas recentes negociações económicas e comerciais em Kuala Lumpur.
O lado norte-americano cancelará a tarifa de 10% sobre o chamado “fentanil” e suspenderá por um ano as tarifas recíprocas de 24% aplicadas a produtos chineses, incluindo mercadorias provenientes das Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e Macau, informou um porta-voz do ministério.
Em contrapartida, a China ajustará as suas contramedidas e manterá algumas isenções tarifárias.
Os EUA também suspenderão por um ano a aplicação de uma nova regra, anunciada em 29 de Setembro, que ampliava restrições de exportação a qualquer entidade com 50% ou mais de participação de empresas incluídas na lista de controlo (“entity list”). A China, por sua vez, suspenderá medidas de controlo de exportação equivalentes anunciadas em 9 de Outubro e analisará planos específicos para ajustamentos futuros.
Outros resultados incluem o acordo dos EUA em suspender por um ano as medidas da sua investigação Seção 301, que visava as indústrias marítima, logística e de construção naval da China. Pequim comprometeu-se a suspender as contramedidas correspondentes assim que a suspensão americana entrar em vigor.
Especialistas de toda a região Ásia–Pacífico consideram esta visão cooperativa oportuna e necessária.
“Da perspectiva de Pequim, o caminho a seguir não é de competição inevitável, mas de coordenação necessária”, disse Majueran, acrescentando que a liderança chinesa frequentemente enfatiza um modelo de cooperação “ganha-ganha”, rejeitando o pensamento de soma zero em favor do progresso partilhado.
Eng Kok Thay, secretário de Estado do Conselho de Ministros do Camboja, afirmou que a reunião Xi–Trump oferece uma oportunidade para reduzir tensões e retomar o diálogo em busca de soluções.
Durante o encontro, Xi observou que o mundo enfrenta muitos problemas difíceis, e que China e Estados Unidos devem assumir as suas responsabilidades como grandes potências, trabalhando juntos pelo bem comum dos dois países e do mundo.
“A trajectória das relações sino-americanas definirá, em grande medida, o ambiente estratégico e económico da Ásia–Pacífico e além”, disse Eng Kok Thay.
“A cooperação garante estabilidade comercial, intercâmbio tecnológico e segurança — resultados que beneficiam não apenas a região, mas todo o planeta”, acrescentou.




