O Jornal Visão Moçambique, na prossecução da sua jornada laboral e no rigor do seu jornalismo investigativo, procurou de todas as formas entender o que realmente acontece quando o preço dos combustíveis é elevado e quando baixa.
A questão principal surge após muitos revendedores reclamarem que a baixa dos combustíveis os prejudicava demasiadamente, pois ainda tinham nos armazéns muito stock. A pergunta que não calou é: porquê quando o preço sobe ninguém vem dizer “vamos aumentar quando o stock também acabar”?
Para enriquecer esta matéria, convidamos para um dedo de conversa o Presidente da Associação dos Revendedores de Combustíveis (ARCOMOC) Nelson Mavimbe. O entrevistado começou por congratular a redução do preço de revenda do Gás Doméstico em cerca de 5%.
“Penso que este foi um presente muito valioso para a nação moçambicana, e aproveitar saudar e congratular essa medida à ARENE (Autoridade Reguladora de Energia), que são notórios os esforços que visam accionar todos mecanismos que estão ao seu alcance para continuar a rever os preços de GPL, para os consumidores, na medida em que nos últimos tempos observamos estas subidas galopantes, fora do normal”.
Mavimbe, esclareceu que algumas subidas são extraordinárias, pois, em nenhum momento da história o país se viu em situações do género, “e olhando para actividade de comercialização do GLP em Moçambique, esta redução trará ganhos as famílias, num momento em que já se havia assumido que, mais vale usar energia para cozinhar do que o gás”, disse o dirigente apontando que a opção dos moçambicanos em usar a corrente eléctrica para a cozinha, em detrimento do gás, deve-se ao facto do gás ser muito caro, daí que muitos adquiriram fogões eléctricos para contornar o problema.
“Desta feita, acredito que esta redução vem para aliviar um bocadinho o bolso dos cidadãos e esperamos que estas medidas continuem acontecendo, porque para um país que é produtor de Gás, as famílias estarem a pagar o preço que pagam pelo consumo deste precioso produto às famílias moçambicanas, é deveras complicado, podemos facilmente compreender, que o povo esperava que o gás fosse mais acessível e que se criasse de facto um meio desse combustível ser tal, acessível para os consumidores”, disse Mavimbe.
Apesar de apontar significativas reduções nos volumes de Vendas para os revendedores do gás, Mavimbe, arrisca-se a dizer que “podemos acreditar que vamos recuperar, é verdade que há tantos outros factores externos e internos que precisamos ter em conta, principalmente porque temos vindo a experimentar uma crise económica e financeira a nível do país e não só, e isto notá-se no fraco poder de compra das famílias.
Enfim, acreditamos que uma vez ultrapassada esta situação da crise financeira, poderemos esperar de alguma forma que os volumes crescam, pois o actual nivel do preço do gás é bastante convidativo, para que mais famílias optem pelo gás, o que seria um ganho para todos actores desta actividade, principalmente um ganho para o próprio país”, avançou Mavimbe acrescentando que quando os preços estavam em alta as metas de vendas falhavam bastante.
“Já não se conseguia cumprir com aquilo que eram os objectivos as gmetas traçadas, as projecções, e tudo ficava complicado, então uma redução destas, vai trazer algum ganho para os retalhistas”.
O entrevistado, quando questionado sobre possíveis perdas, referiu que têm sofrido enormes prejuízos, sempre que ocorrem reduções no preço de venda do gás, uma vez que estas reduções geralmente são feitas sem pré-aviso aos principais actores da cadeia de distribuíção dos combustíveis, colhendo de surpresa os retalhistas que tendem a manter um stock elevado por forma a responder a demanda do dia-a-dia, o que acaba remetendo-os a duros golpes financeiros, sempre que há redução do preço de revenda, visto que estes se vêem forçados a revender o seu stock a preços abaixo dos preços que tais “stocks” foram adquiridos ao fornecedor, olhando para todo processo de logística.
Os ajustes em baixa do preço do gás, digá-se sem pré-aviso, geram prejuízos sistemáticos, que em última instância, afectam a estrutura financeira dos retalhistas e refream a sua capacidade de fazer novos investimentos, facto que se associa a margem que se encontra desajustado a sensívelmente 3 anos, para não mencionar que estas perdas afectam drásticamente a capacidade destes retalhistas, de honrarem com outras obrigações que têm com salários, fornecedores, rendas, bancos e outros compromissos operacionais que garantem o funcionamento das suas actividades, colocando em risco, a continuidade das suas actividades a longo prazo, e ameaçando inúmeros empregos, fontes de negócio e pontos de captação de receitas para o estado.
Na tentativa de entender como ultrapassar este gargalo que assombra a actividade dos retalhistas, o nosso entrevistado lamentou:
“não temos como reclamar este prejuízo porque a sensibilidade que fica, é que quando foi a vez das subidas, os operadores tinham stock nos armazéns, tiveram algum ganho com isso. Então esta é a vez deles perderem, pesa embora o desequilíbrio que existe neste processo – portanto, é este sentimento que fica, e com esta justificação muitas vezes nós não fazemos questão de reclamar”, esclarece e diz mais,
“a Direcção Nacional de HidroCarbonetos-DNHC já se pronunciou no passado sobre isto, então é só assumir o prejuízo. Esta é uma regra que acabou se normalizando, até então não temos nenhuma fórmula definida ou legislada que possa servir de recurso para fazermos aqui algumas compensações quando há redução e/ou subidas”, completou.
Importa recapitular que a 19 de Janeiro do ano em curso, A Autoridade Reguladora de Energia (ARENE), comunicou o ajustamento, em baixa, do preço de gás de cozinha (GPL) e a manutenção dos preços nos restantes combustíveis. Em resultado desta revisão, a ARENE reduz o preço do gás doméstico dos anteriores 95 meticais e quatro centavos para 90 meticais e um centavo, correspondente a uma descida de cerca de cinco meticais por quilo.
Com efeito, o novo preço de gás doméstico vigora desde as zero hora do dia 20 de Janeiro de 2023. Entretanto, mantêm-se os preços da gasolina 86,97Mt, do gasóleo 87,97Mt, do petróleo de iluminação 75,58Mt e do gás natural veicular (GNV) 43,73Mt/ leg. De acordo com ARENE, o ajustamento do preço do gás de cozinha (GPL) foi influenciado pela redução do seu preço base (CIF).
Refira-se que o último reajuste do gás de cozinha (GPL) foi na segunda semana de Dezembro de 2022.
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